“O carnaval do Recife está crescendo nos clubes e arrefecendo nas ruas. A organização, que o torna artificial, os cordões de isolamento, que transformam o povo em mero espectador, e sobretudo a ausência de orquestras de frevo tocando para o “passo” são os principais fatores do desânimo. Diariamente, milhares de pessoas vieram às ruas, mas ficaram andando a esmo, pois os poucos alto-falantes colocados muito espaçadamente não convidavam à folia. A Pracinha do Diario concentrou o maior número de foliões, que aproveitavam a passagem de qualquer bloco para fazer o passo, numa verdadeira ânsia de frevo.
Enquanto isso, Olinda, ali pertinho, dava o exemplo: assistido pela prefeitura mas inteiramente livre, feito pelo povo, o carnaval dominou todas as ruas e ladeiras. Não havia uma só delas que não contasse com um bloco, uma orquestra, um clube e muita gente dançando em volta. Há uma esperança, porém, para os recifenses: vinte vereadores deflagraram um movimento para extinguir o carnaval oficializado, devolvendo ao povo o que é do povo.
Na passarela da Dantas Barreto, outra dolorosa constatação: na terra do frevo, o samba foi mais aplaudido e melhor, apenas Batutas de São José e a visitante Pitombeira dos Quatro Cantos, de Olinda, conseguiram fazer vibrar o público.”
O texto da capa do Diario de Pernambuco de 8 de fevereiro de 1978, uma quarta-feira de Cinzas, fazia um balanço nada feliz do carnaval do Recife. Apesar da foto principal ser da Pracinha do Diario completamente lotada, a impressão deixada era de inanição foliã nas ruas, muito diferente do que ocorria em Olinda. O momento era da festa em recintos fechados. Tanto que o jornal trazia um caderno especial de oito páginas do Viver apenas com o registro do que aconteceu nos clubes. Era o tempo de muita gente, pouca roupa e volta e meia no salão, como se pode ver na galeria abaixo.