Em Foco 2002

No carnaval de 2015, 612 coletivos foram danificados por falsos foliões, 64 a menos do que no ano anterior. Mesmo com esta redução, as depredações de ônibus durante a festa levantam debate sobre educação e responsabilidades. Tema do Em Foco do Diario de Pernambuco desta sexta-feira, por Silvia Bessa. A arte é de Rafael.

A culpa nem sempre é dos outros

Silvia Bessa  (texto)
Rafael  (arte)

Para falar de absurdos, é preciso usar a régua certa e distribuir responsabilidades. O carnaval acabou, o calendário funcional parece que começou a valer depois da quarta-feira de cinzas e o trabalhador do Recife que utiliza do transporte coletivo acordou com a notícia informando que 612 ônibus foram depredados em quatro dias de festa. Janelas, vidros de portas, alçapões de teto, para-brisas quebrados… Pouco importa se houve uma redução de quase 10% da violência em comparação com o saldo do ano passado. São 612 ônibus alvo de destruição. É muito e inaceitável.
Tem-se por hábito cobrar ação de autoridades e políticos, condenar a má qualidade de serviços prestados, sente-se no direito (e tem mesmo) de reclamar do tarifário alto para a péssima oferta de veículos nas ruas e na maioria das vezes as pessoas estão com razão. Mas sejamos justos: esse quebra-quebra não tem a ver com políticos, empresas, custo de bilhete e nada mais do que se possa pensar como argumento. É ato de vândalo, gente que procura argumento para quebrar, acabar com o que é do coletivo sem motivo algum.
Ontem havia dezenas de ônibus nos pátios das empresas recolhidos para consertos; outros foram mantidos em circulação, danificados, para evitar atrasos na operação. É de se indignar tamanha inconsequência. Será que o sujeito que chutou, jogou pedra ou objeto semelhante pensa que está atingindo apenas o dono da empresa de ônibus? Ou fazendo protesto a algo? Quanto simplismo. O ônibus que deixou de circular vai fazer falta a pai, filho, irmão quando for ganhar o pão no dia seguinte ou estudar para melhorar a qualidade de vida futura da família.
E quem vai pagar a conta? supõe-se que o conjunto dos recifenses que estiveram no carnaval, os que ficaram em casa, os pacíficos e os violentos. Comentando uma postagem sobre o tema na página oficial do Facebook do Diario de Pernambuco, o leitor e professor José Geraldo Alencar Filho dizia que a ignorância da população é não perceber que isso reflete de volta. “Seja na ausência de veículos que já são poucos e ruins, no preço do bilhete que pode vir a aumentar, ou o investimento da frota que não vem por terem de destinar verba para os consertos”, enumera ele.
Tem comentários de todos os modelos. O do leitor José Victor que diz desaprovar esse tipo de conduta, porém faz um parênteses em que justifica o vandalismo em parte pelo descontentamento da população na espera dos coletivos. Pode-se ler outros vários que cobram de Imprensa e autoridades posição semelhante àquela tomada diante de medidas educativas que visam evitar vandalismo durante a realização de partidas de futebol. Ora, os fins justificam os meios? Cabe buscar algo que minimize a depredação revelada ontem pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE)?
A régua que mede a causa das depredações que atingiu este ano 612 veículos que prestam serviços de transporte público e coletivo tem de considerar três eixos: a má educação dos que cometem o crime contra o patrimônio alheio, a falta de fiscalização por parte dos agentes de polícia do estado ou a fraca fiscalização para este tipo de infração; e os poucos casos de punição efetiva e exemplar que vêm a conhecimento público. Quando se passa o traço nesse balanço, a conclusão é uma só: a culpa não é só dos outros; e a sociedade precisa olhar para o seu próprio umbigo.