A notícia estava lá, preto no branco. Mas a TV brasileira, a partir daquele dia, nunca mais seria a mesma. Em 20 de fevereiro de 1972, um domingo, o Diario de Pernambuco estampava como manchete uma novidade tecnológica. No dia 31 de março – data não escolhida por acaso – os programas exibidos pelas emissoras nacionais seriam transmitidos com todas as cores possíveis. O primeiro teste havia ocorrido no dia 19 de fevereiro, com a exibição da visita do general Médici – o ditador militar da vez – à Festa da Uva em Caxias do Sul (RS). A TV Rádio Clube seria a responsável pela distribuição das imagens vistas no Nordeste. No Recife, a expectativa para assistir a este momento histórico era grande. Desde as 8h começou a aglomeração em frente às lojas comerciais no centro e no subúrbio, as únicas que dispunham dos monitores apropriados.
Programada para as 11h, a transmissão de Médici e as uvas não pôde ser vista no Recife por um problema de micro-ondas do Rio Grande do Sul. Uma nova chance foi marcada para as 14h45. A reportagem do Diario registrou que os percalços continuaram. “As pessoas encarregadas de ligar os aparelhos de TV não sabiam sintonizá-los com perfeição, e as imagens apareciam sempre com predominância das cores azul, vermelho, roxo e branco. Em algumas lojas, as cores desapareciam completamente”. Mas um novo mundo se descortinava. Lojas como Primavera, Boa Vista, Socic e Mesbla esperavam no futuro mais compradores do que os 20 que haviam adquirido televisores para aquele momento inaugural.
Em 31 de março de 1972, o Diario voltou a registrar em sua capa o colorido das TVs. Naquele dia, a Rádio Clube começaria oficialmente as suas transmissões com a nova tecnologia, iniciando às 15h com um espetáculo sobre a vida de Cristo – era época da Semana Santa. Às 17h seria veiculado um documentário sobre o Brasil e uma hora depois, via satélite, exibiria a via-crúcis do Coliseu romano. Às 20h30, Médici falaria diretamente de Brasília a respeito do oitavo aniversário da tomada de poder pelos militares. Ufanismo via Embratel.
Abaixo, as primeiras imagens coloridas vistas pelos brasileiros diretamente da telinha.