Era primeiro de abril, mas sem tempo para brincadeiras. O presidente João Goulart não governava mais o Brasil. O Exército havia consolidado a tomada do poder, depois de vários ensaios nos anos anteriores. De Juiz de Fora (MG), os generais Olímpio Mourão Filho e Carlos Luís Guedes iniciaram a marcha de uma guarnição em direção ao Rio de Janeiro. Em São Paulo, o general Amauri Kruel aderiu ao movimento. Jango se refugiou no Uruguai. Começava a caça aos inimigos do novo regime, a começar pelos estados onde as questões sociais estavam na ordem do dia. Pernambuco, com o governador Miguel Arraes à frente, estava na mira. Na edição do dia 2 de abril, ao anunciar o movimento militar, o Diario informava que o governador fora retirado preso do Palácio do Campo das Princesas, mas sem renunciar.
“Por 45 votos a favor contra 16 e um em branco, a Assembleia Legislativa aprovou uma resolução considerando vago o cargo de Governador e determinando que ele seja preenchido pelo vice-governador, sr. Paulo Guerra. Essa resolução foi votada em face de um ofício chegado ontem ao Palácio Joaquim Nabuco, enviado pelo comando do IV Exercito, comunicando que o sr. Miguel Arraes fora afastado de suas funções, por motivos já do conhecimento público. Em vista do comunicado, levado à mesa por um oficial do IV Exercito, a Comissão Executiva elaborou um projeto de resolução em que reconhecia existir, de fato, o afastamento do sr. Miguel Arraes, decretando, por isso, o impeachment”, informava o jornal.
Diante dos comandantes do 14º RI e 7º RO, respectivamente os coronéis Castilho e Ivan Rui, Miguel Arraes não atendeu à ordem de renúncia. O governador saiu do palácio num fusquinha. Foi encarcerado em uma cela do 14º Regimento de Infantaria do Recife, sendo posteriormente levado para a ilha de Fernando de Noronha, onde permaneceu por 11 meses. Passou ainda períodos nas prisões da Companhia da Guarda e do Corpo de Bombeiros, no Recife, e da Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. No dia 19 de abril, o seu pedido de habeas corpus foi protocolado no Supremo Tribunal Federal e foi concedido, por unanimidade. Libertado em 25 de maio de 1965, exilou-se na Argélia.
A edição do Diario de 2 de abril registrou que dois estudantes morreram e um ficou ferido em confronto com militares na Avenida Dantas Barreto. Se em seu editorial o jornal defendia “a ordem” e a necessidade de uma rápida transição para um novo governo civil, nas demais páginas apresentava um quadro que iria se prolongar por longos 21 anos: “Não obstante o lamentável acidente ocorrido ontem à tarde na avenida Dantas Barreto, o clima no Recife foi de inteira ordem, garantido pelas forças do Quarto Exército. Pela manhã, o comércio funcionou normalmente, porém à tarde as casas comerciais cerraram as portas, ficando a trabalhar apenas a indústria. No entanto, a movimentação foi intensa no centro da cidade, durante todo o dia, com o povo ávido pelas notícias das operações militares”.