Ao longo dos seus quase 190 anos – que serão completados em novembro – o Diario de Pernambuco registrou tudo o que foi marcante na história. Ou melhor, quase tudo. Um dos episódios que os leitores não tiveram a oportunidade de folhear nas páginas ainda quentes de tinta foi a tragédia do Titanic, que neste 15 de abril completa 103 anos. O ano de 1912 foi difícil para o jornal. Quase que a publicação naufragava também. O iceberg, no caso, era a política.

“Continua o Diario de Pernambuco em sua marcha, respeitando com calma e sobranceria o itinerario que ele proprio lhe traçou e mantendo-se dignamente na posição que soube conquistar na imprensa brazileira, não obstante as contrariedades e vexames por que ultimamente tem grassado”. Com a grafia da época, o comunicado publicado na edição de 18 de janeiro de 1912 faz referência direta à agressão que o jornal sofreu em novembro de 1911, quando teve edições rasgadas em plena Praça da Independência e seu parque gráfico foi danificado. O “empastelamento”, que tirou o jornal de circulação até o início de 1912, foi consequência dos conflitos entre os “rosistas”, adeptos do proprietário do Diario e dos “dantistas”, partidários do general Dantas Barreto, que disputavam o cargo de governador do estado. Rosa e Silva venceu nas urnas e o jornal foi atacado.

Mesmo vencedor das eleições, quem assumiu foi Dantas Barreto. Ainda seria necessária a homologação do resultado pelo Poder Legislativo, que acabou preferindo o general. Nestes dias de indefinição, os funcionários do Diario foram vítimas de ataques e a edição do aniversário do jornal, no dia 7 de novembro, foi rasgada e insultada na frente do palacete da pracinha.

De acordo com Arnoldo Jambo, autor do livro Diario de Pernambuco – História e Jornal de Quinze Décadas, publicado em 1975 para comemorar os 150 anos do jornal, “a ação dos dantistas em desespero culminaria com o ataque direto ao interior da antiga folha – a primeira violentação material que haveria de sofrer, nos seus 85 anos de existência”.

Com Dantas Barreto no Palácio do Campo das Princesas, a situação ficou insustentável. No dia 18 de fevereiro de 1912, o Diario publicou um editorial condenando a agressão sofrida por um funcionário, Alexandre Motta, que foi espancado quando retornava para casa de bonde. A acusação era de que os responsáveis pela surra seriam policiais à paisana.

No dia 23 de fevereiro, o Diario circularia pela última vez em 1912. Seu maquinário seria novamente destruído. As impressoras, caixas de tipos, livros, nada escapou. O relatório do chefe de polícia acusou o dono do jornal e seus funcionários, principalmente Assis Chateaubriand, como responsáveis.

O Diario só voltaria às ruas no dia 28 de janeiro de 1913, agora com novo dono, o proprietário rural e dono de engenho Carlos Benigno Pereira de Lira. Na primeira edição sob seu comando, um comunicado deixava claro que o jornal não seguia nenhuma corrente política e tinha o único objetivo de levar informação a seus leitores. “O Diario entra de novo no cyclo de sua atividade jornalistica, depois d’uma longa interrupção medrada pelos graves acomtecimentos que convulsionaram esta capital”, informava o texto.

Mesmo gravemente ferido, o Diario de Pernambuco sobreviveu. Em 2012, publicou uma página registrando o centenário da tragédia do Titanic, episódio em que foi impedido de levar para os leitores. Material que agora volta à tona neste blog.