Em Foco 1604No momento em que todo mundo está indo às ruas para defender propostas e apresentar suas queixas, não é hora de o Nordeste fazer o mesmo, em defesa do desenvolvimento da região? Tema do Em Foco do Diario de Pernambuco desta quinta-feira, por Vandeck Santiago. A foto que ilustra a página é de autoria de Humberto Pradera/Divulgação.

Ir às ruas pelo Nordeste

Vandeck Santiago  (texto)
Humberto Pradera  (foto)

Até onde minha memória alcança, ontem foi a primeira vez que os nove governadores do Nordeste estiveram presentes em um encontro com a bancada federal da região, em Brasília. A reunião foi no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados. Os governadores foram solicitar aos parlamentares apoio para uma pauta única em defesa da região – parece algo óbvio, que nem precisaria ser pedido, uma vez que os parlamentares são representantes do povo nordestino, mas em política o óbvio não é nada sem o gesto.
É a terceira reunião feita pelos governadores. A primeira foi em dezembro do ano passado (quando eles eram governadores eleitos), na Paraíba, e a segunda em 25 de março passado, em Brasília, com a presidente Dilma Rousseff. Na de ontem participaram também o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, e o presidente do BNB (Banco do Nordeste), Nelson Antonio de Souza. A bancada federal do Nordeste corresponde a cerca de 30% do Congresso: são 151 deputados e 27 senadores.
Ficou decidido que a bancada do Nordeste formará uma comissão encarregada de acompanhar a tramitação das matérias de interesse da região no Congresso. Cada estado terá uma coordenação formada por um deputado, um senador e um representante do governo estadual. Há pelo menos 25 projetos tramitando na Câmara e no Senado de interesse do Nordeste, entre eles a taxação do comércio eletrônico, questões do ICMS, a PEC da irrigação e a criação de um fundo para a região. “É fundamental que esse Fundo tenha transferências obrigatórias e vinculadas aos impostos federais”, disse o governador do Ceará, Camilo Santana (PT).
Não há de se esperar desses encontros resultados imediatos que contemplem as reivindicações feitas, mas eles são importantes para manter a escalada ascendente da mobilização, consolidar a agenda regional e levantar informações. O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), informou por exemplo que com a crise o Nordeste já perdeu 60 mil empregos. “O Nordeste é a alternativa econômica para o país. Nos últimos 14 anos, se retirarmos a riqueza gerada no Nordeste, o país teria um desempenho negativo. Gás, petróleo, turismo e serviços foram algumas das áreas que apresentaram crescimento. O Nordeste não pode abrir mão de um conjunto de investimentos em andamento e projetados”, disse Wellington Dias (PT), governador do Piauí.
O Nordeste cresceu mais que o Brasil em 2014 (3,7% contra 0,1%), e deve manter em 2015 um crescimento superior ao do país, mas isso não significa que não tenhamos problemas e desaceleração econômica. Todos sabemos que a consolidação do desenvolvimento não vem em sequência de espasmos, mas na constância do crescimento. Em muito boa hora os governadores do Nordeste estão levando adiante uma mobilização importante para a região, o que entre outras coisas pode evitar que nossas questões específicas sejam tragadas pela radicalização política e a crise econômica do país. Agora, tenta-se incorporar na luta os deputados e senadores. Creio que no futuro próximo será fundamental também tentar incorporar a população. No momento em que todos estão indo às ruas defender suas propostas e externar suas queixas, talvez seja o momento apropriado de o povo do Nordeste ser convocado a ir para as ruas defender o desenvolvimento da região. Isso pode começar com uma reunião dos governadores aberta à população, para apresentação da pauta que nos diz respeito diretamente.