Um lugar aprazível, porém de difícil acesso. Antes do dia 18 de outubro de 1925, era assim que o recifense definia Boa Viagem. O bairro que, 90 anos depois, tem um dos metros quadrados mais caros da capital pernambucana passou a mudar de perfil naquela data, com o funcionamento oficial da avenida beira-mar – mesmo que ainda incompleta – e o início de operação da linha de bonde da Tramways do Centro ao litoral.
A inauguração de cinco quilômetros de asfalto e trilhos, do trecho da antiga pracinha à ilha do Pina, fazia parte das comemorações do terceiro ano de gestão do governador Sérgio Loreto. A festa aconteceu no domingo, mas como o Diario de Pernambuco não circulava às segundas-feiras em 1925, o leitor só conferiu a novidade dois dias depois. E elas eram muitas. Às 15h, o governador, familiares e autoridades, convidados da Tramways, fizeram a primeira viagem da linha Recife – Boa Viagem. Chegando ao terminal, todos receberam uma taça de champanhe no pavilhão armado em meio à praça.
Arthur Smith, superintendente da companhia ferroviária, revelou que a primeira viagem estava prevista para acontecer somente em 1931, mas o governador pressionou para adiantar os serviços. Em seu discurso, Sérgio Loreto disse que Pernambuco só teria a lucrar com os melhoramentos em Boa Viagem, já convertida numa estação balneária. Dizia-se satisfeito depois das críticas recebidas de desperdício de dinheiro público em um local ermo e pouco frequentado. Às 18h, a comitiva retornou ao Centro do Recife em automóveis, num trajeto feito em 15 minutos. O governador seguiu na sua limusine, acompanhado de mais de 300 veículos.
Foi a vez do público fazer o passeio nos bondes, de forma gratuita, até as 22h. Um sucesso total. Se o Diario de Pernambuco publicou apenas texto, a Revista de Pernambuco, publicação mensal da época, registrou em fotos e artigos os acontecimentos na sua edição de novembro, um mês depois do ocorrido. Material que representa o início de uma época e que pode ser consultado mais rápido que chegar em Boa Viagem na hora do rush.