Em Foco 2904
As conquistas fortalecem os vencedores, mas não transformam gratidão em submissão. Em vez disso, geram a necessidade de preservar o que foi obtido e buscar novas vitórias. Tema do Em Foco do Diario de Pernambuco desta quarta-feira, por Vandeck Santiago. A imagem que ilustra a página é de autoria do repórter fotográfico Ricardo Fernandes.

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Vandeck Santiago (texto)
Ricardo Fernandes (foto)

Tudo na vida é escolha. Se é escolha, significa que pelo menos duas opções são oferecidas. A regra serve para pessoas e para governos. Quando um determinado governo leva um empreendimento para determinado estado, ou cria condições para que o empreendimento vá para lá, significa que fez uma escolha.
O polo automotivo Jeep, inaugurado ontem pela presidente Dilma Rousseff, foi uma escolha. Poderia ter ido para Minas Gerais (que estava com tudo pronto para recebê-lo, e contava que isso iria acontecer), poderia ter ido para São Paulo (que tem todas as condições para receber qualquer empreendimento), poderia ter ido para qualquer lugar apto a sediá-lo – em vez disso, porém, veio para Pernambuco.
Isso foi possível porque às vésperas do fim do seu governo, em 2010, o então presidente Lula assinou uma medida provisória prevendo benefícios fiscais para empresas do setor automotivo que investissem no Norte/Nordeste.
Mas escolhas não são indolores. Um grande portal nacional noticiou o fato dizendo que era “um agrado fiscal” do presidente a Eduardo Campos, governador de Pernambuco. E quatro anos depois o caso entrou na campanha eleitoral: o candidato a governador de um estado que fora preterido disse que os habitantes de lá “perderam investimentos e empregos que seriam gerados por uma nova fábrica da Fiat”, e que a Fiat transferira a planta para Pernambuco “supostamente por pressão do presidente”.
Relembro essa história não pelo seu aspecto eleitoral, mas para mostrar que a destinação de grandes investimentos para a região A ou B nunca é pacífica. A gente vê as fotos da inauguração, os discursos, a festa, e acha que todo aquele processo foi tranquilo e que aconteceria daquela forma independentemente da história de cada um ou da situação do momento.
Mas não sejamos ingênuos: nessa área tudo é ferrenhamente disputado. Hoje estamos comemorando a inauguração de uma fábrica que deve gerar 9 mil empregos até o final do ano, teve investimentos de R$ 7 bilhões (atenção: bilhões!), sua mão de obra é formada por 82% de nordestinos e e até 2020 deve ser responsável por 6,5% do PIB pernambucano, segundo estudo da consultoria Ceplan. É a ponta de lança de um processo que vai alavancar o progresso não só de Goiana, mas também de 13 outros municípios que ficam no seu entorno, área onde ficam ainda um polo farmacoquímico e um polo vidreiro (tudo isso fruto de ações surgidas a partir de 2003). Estamos comemorando este acontecimento hoje, mas poderíamos estar também sem nenhum desses empregos, sem um tostão desses investimentos, porque eles poderiam ter ido para outros estados, e aí estaríamos acompanhando tudo de longe e se queixando em vez de celebrando.
A atração de investimentos, empreendimentos, benefícios, políticas destinadas a reduzir desigualdades exige articulações (às claras e de bastidores), mobilização, acordos e liderança. No momento em que se fez a escolha de a fábrica da Fiat vir para Pernambuco tínhamos um presidente interessado em levar investimentos para o Nordeste e no estado uma liderança bem sucedida na administração e na política, Eduardo Campos. Uma dinâmica de forças que favorecia Pernambuco. Em seu discurso na inauguração do polo, ontem, a presidente referiu-se à obra afirmando que era “fruto de uma ação conjunta”, nominando em seguida Eduardo e Lula como dois “nordestinos comprometidos com o desenvolvimento de Pernambuco”. Falou ainda da necessidade para o Brasil de o padrão econômico e social do Nordeste assemelhar-se ao do Sul e Sudeste.
Quando positivas, as escolhas fortalecem os escolhidos. Não tornam sua gratidão sinônimo de submissão, mas sim prova de reconhecimento. E geram a necessidade de preservar as conquistas obtidas e lutar para obter outras. É a situação em que se encontram hoje Pernambuco e o Nordeste.