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Em vida, Sir Ernest Henry Shackleton (1874-1922) liderou três expedições à Antártida. Aliás, morreu por lá, no porto de Grytviken, na Geórgia do Sul, de um ataque do coração, aos 47 anos de idade, deixando como legado a história extraordinária de um fracasso.

Em 1º de agosto de 1914, poucos meses antes do início da I Guerra Mundial, o navio Endurance parte da Inglaterra com uma tripulação de 28 homens, para a última aventura ainda disponível para Shackleton: cruzar a Antártida a pé, numa travessia de três mil quilômetros. A equipe foi escolhida pessoalmente pelo capitão, que já havia participado de expedições anteriores ao continente gelado. Ele sabia que tipo de gente resistiria a todo tipo de dificuldades.

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No dia 5 de dezembro de 1914, o Endurance parte da Geórgia do Sul, depois de uma breve parada na Argentina. Em 18 de janeiro de 1915, um dia antes do desembarque no local planejado, na baía Vahsel, o navio fica preso em um banco de gelo. A tripulação arma acampamento fora da embarcação, que acaba se despedaçando, isto seis meses depois, em 27 de outubro.

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Durante todo este período, Shackleton conseguiu manter a moral elevada de seus homens, dividindo tarefas e garantindo a unidade entre oficiais, cientistas e marinheiros. O grupo fica no local até 9 de abril de 1916, quando o degelo obriga todos a embarcarem em três botes salva-vidas. Eles chegam então à ilha Elephant, fora do roteiro dos barcos baleeiros da região. Antes disso, os cães já haviam sido sacrificados e focas e pinguins constituíam agora a principal fonte diária de proteína.

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No dia 24 de abril de 1916, Shackleton escolhe cinco homens para uma viagem de barco em busca de ajuda. Sem instrumentos de navegação e apenas com remos, eles conseguem atravessar 800 milhas até desembarcar na Geórgia do Sul, no dia 10 de maio. Shackleton deixa três homens exaustos na praia e segue, com a ajuda dos outros dois companheiros, pelo interior da ilha, que ainda não era mapeada. Depois de subir e descer montanhas, consegue chegar à estação baleeira e pedir ajuda. Shackleton, mesmo cansado, faz questão de ir no navio de resgate da sua tripulação, na ilha Elephant. Em 30 de agosto, ele constata pessoalmente que todos seus 23 companheiros estão vivos.

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O resumo acima foi tirado das 352 páginas de A Incrível Viagem de Shackleton, de Alfred Lansing, e das 288 páginas de Shackleton – Uma lição de coragem, de Margot Morrell e Stephanie Capparell, um misto de relato e manual de liderança. Os dois livros foram lançados no Brasil pela editora Sextante e será preciso paciência de um explorador polar para encontrar uma edição disponível. Mas o esforço valerá a pena.

Por determinação do comandante, cada tripulante tinha um diário de bordo e é através destes textos que sabemos detalhes da aventura. O fotógrafo da equipe, Frank Hurley, deixou como legado imagens poderosas, apesar de ter abandonado boa parte de seu material para trás por causa do excesso de peso. Emblemática a imagem do grupo acenando para o barco onde Shackleton tentaria buscar ajuda. Poderia ser o último registro dos dois lados.

A Kodak preparou um especial interativo sobre a expedição do Endurance, valorizando as imagens de Frank Hurley. O conteúdo, em inglês, pode ser acessado clicando aqui.