roniquito

As primeiras 180 páginas deste livro (em letras grandes) são o relato da irmã Scarlet Moon da vida e “obra” de Ronald Russell Wallace de Chevalier, o Roniquito para os íntimos. As outras 80 páginas são transcrições de textos de Joaquim Vaz de Carvalho, Ruy Guerra, Fausto Wolff, Jaguar, Ferreira Gullar e pequenos relatos de boêmios da pesada como Hugo Carvana, Boni e Chico Buarque. O economista, que em junho faria 78 anos – morreu em janeiro de 83, com 45 anos de idade – deixou sua marca como boêmio num Rio de Janeiro que não existe mais, além de ter contribuído com a língua portuguesa criando o verbete “aspone”, redução de “assessor de porra nenhuma”. Boa fonte de assunto para mesa de bar numa sexta-feira.

Uma noite no Bar Antonio’s – da esquerda para a direita: o garçom Marcos Vasconcellos, Roniquito Chevalier, Nelson Motta Chico Buarque e Lucio Rangel

Foi assim certa noite em 1964, quando bebia com Paulo César Saraceni e Armando Costa num bar de Copacabana. Os três esculhambavam o golpe e as Forças Armadas em altos brados. Numa das mesas próximas havia um grupo de militares que se sentiu ofendido. Estes foram à 13ª Delegacia e convocaram a polícia para prender os difamantes.

Armando Costa estava no banheiro quando os policiais chegaram. Ao se aproximarem da mesa, foram desacatados por Roniquito. Levaram Saraceni e ele presos. Armando, saindo do lavabo, tentou ser preso também mas não conseguiu. Na delegacia, embora Saraceni e o delegado tentassem, não conseguiam aplacar a ira roniquitiana. Paulo César ligou para tio Pandiá, que chegou prontamente, conversou com o delegado e convenceu-o a liberar os dois.

Conseguiu porque o delegado não aguentava mais o discurso irado de Ronald. Num determinado momento, Paulo César disse que ia embora e levaria o tio Pandiá com ele, para ver se Ronald se acalmava e ia junto. Mas Roni estava tomado de ódio dos militares e continuava sua peroração. Tio Pandiá e Saraceni fizeram menção de partir. Desta vez foi o delegado que estrilou:

– Pelo amor de Deus! Não deixa esse cara aqui não!
página 90

Esta história Luiz Carlos Miéle incluiu no repertório dos seus shows.

Roniquito estava no Antonio’s, quando chegou uma frequentadora toda bem-vestida.

Ele perguntou de onde ela estava vindo assim tão chique.

A moça respondeu toda feliz:

– Do Theatro Municipal – e emendou: – Você gosta de Béjart?

Roniquito respondeu:

– Não, eu prefiro Foudet.

A moça ficou rubra de indignação:

– Que grossura! Estou falando do coreógrafo Maurice Béjart!

E Roniquito na maior candura:

– E eu do bailarino Pierre Foudet!

Evidentemente só ele conhecia este profissional da dança.
páginas 232 e 233