Em Foco 1106

Empresária de sucesso, a presidente do Magazine Luiza defende uma passagem pela vida com protagonismo. “Reclamar não leva a nada. Adianta é fazer”. Tema do Em Foco do Diario de Pernambuco desta quinta-feira, por Marcionila Teixeira. A imagem que ilustra a página é de autoria de Guilherme Veríssimo.

Os segredos de Luiza

Marcionila Teixeira (texto)
Guilherme Verissimo (foto)

Luiza Helena Trajano, 64 anos, tem pressa. Naquela tarde, tem um evento inadiável: o aniversário de cinco anos do neto. Precisa resolver os compromissos profissionais no Recife o quanto antes para embarcar no jatinho particular de volta a São Paulo, onde a família espera. Divide-se, mais uma vez, em várias Luizas. Enquanto concede entrevista, aprecia iguarias salgadas oferecidas por um garçom, toma um refrigerante e atende às demandas diversas dos assessores. Luiza é prática.
A presidente do Magazine Luiza, uma das empresas líderes do varejo no Brasil, corre o país dando palestras. Somente no ano passado foram 84. Ontem à tarde, esteve na capital pernambucana para falar sobre Liderança feminina no Brasil, no 2º Seminário de Mulheres Líderes, no JCPM, promovido pelo LIDE Mulher. Conta nunca preparar a fala. “Falo de acordo com o público. Quando é formado por mulheres, digo para não terem culpa. Se ela decide ficar em casa achando que criará melhor o filho, pode se enganar. Não existe receita para criar filho. O negócio é bom senso e muito amor”, ensina a mãe de três filhos e avó de quatro netos, hoje viúva. As palestras não são cobradas, diz, mas quem quiser colaborar pode encaminhar qualquer valor para a ONG Franca Viva, mantida pela empresa no interior de São Paulo, há mais de dez anos, e direcionada à educação.
Questões do gênero feminino são de interesse de Luiza. Um dia ela refletiu sobre as parcas possibilidades de uma mulher ser promovida a gerente em suas lojas, considerado cargo máximo na rede. “Se eu não fizesse uma ação própria para a mulher, ela nunca alcançaria o cargo. Uma das exigências para o posto, por exemplo, é viajar pelo menos por seis meses para conhecer várias lojas. Então, coloquei mulheres em estágios nas cidades delas ou perto de suas cidades para que pelo menos voltem para casa nos finais de semana”, explica.
As funcionárias das 756 lojas das redes espalhadas por 16 estados, cujos filhos têm até dez anos e nove meses, também recebem o cheque-mãe. O valor, conta Luiza, varia de acordo com a cidade e fica entre R$ 400 e R$ 600. “O país não tem escolas de tempo integral para deixar as crianças e o dinheiro ajuda a pagar um espaço para os filhos dessas mulheres”, raciocina.
Em meio à conversa, Luiza pede um guardanapo – não o de tecido, para não sujar e gastar água – e arrisca definir a vida. “Amo viver, amo o Brasil. Para mim, a vida é ter protagonismo. Tem gente que só está viva porque não conseguiu morrer ainda. Reclamar não leva a nada. Adianta é fazer”, filosofa. E o conselho, se Luiza permite assim dizer, vale para todos os aspectos da vida, ressalta a empresária.
Assim Luiza vai tirando os projetos da cabeça e colocando-os em prática. Um deles, conta, é o Grupo de Mulheres do Brasil, com 300 participantes. A ideia, explica, não é inventar a roda, mas trabalhar o empreendedorismo, causas sociais, cidadania e ajudar o Brasil. “Se tivesse estruturado muito não tinha acertado. Pego as ideias e aplico. Se pensar demais não faço. Aos poucos vou dando ordem. Faço ao contrário. Da prática vou para a teoria”, diz, vangloriando-se da própria intuição.
A mulher que dorme pouco mais de quatro horas por dia está à frente de cifras grandiosas. Preside uma empresa com faturamento bruto de R$ 12 bilhões, em 2014, e emprega 24 mil pessoas. Conectada com as novas mídias, celebra os 14 mil seguidores no Instagram. Luiza tem lá suas razões para atrair interessados em sua fala.