Crédito: Bruna Monteiro DP/D.A Press - Peixe-boi Xica quando completou 50 anos, em 2013, no Centro de Mamíferos Aquáticos de Itamaracá

Crédito: Bruna Monteiro DP/D.A Press – Peixe-boi Xica quando completou 50 anos, em 2013, no Centro de Mamíferos Aquáticos de Itamaracá

Em 8 de agosto de 1928, o escritor Mário de Andrade, em visita ao Recife, foi com os amigos conhecer um peixe-boi que vivia em um tanque no Parque Amorim. Usar sirênios da família dos triquequídeos como atração turística continuou sendo uma aposta da capital pernambucana ao longo do século 20. E esta relação forçada entre recifenses e mascote ganhou um símbolo que, aos 52 anos de idade, neste último domingo saiu da vida aquática para entrar de vez na história. Xica – antes era Chico, por incapacidade de identificação de seu sexo quando filhote – viveu por 22 anos na Praça do Derby. Uma história que se confunde com os maus-tratos sofridos pela cidade.

Crédito: Arquivo/DP - Xica pesava 300 quilos quando foi levada para Itamaracá, em 1992. Era a metade do peso ideal para um mamífero adulto criado em cativeiro. Além de mal alimentada, não tinha espaço para mergulhar e logo ganhou uma queimadura de sol que a deixou com uma marca esbranquiçada nas costas. Outra sequela foi uma deformidade na coluna vertebral por falta de mergulhos. Na Praça do Derby, ganhava pipoca das crianças, admiração de adultos, mas também levava pedradas.

Crédito: Arquivo/DP – Xica pesava 300 quilos quando foi levada para Itamaracá, em 1992. Era a metade do peso ideal para um mamífero adulto criado em cativeiro. Além de mal alimentada, não tinha espaço para mergulhar e logo ganhou uma queimadura de sol que a deixou com uma marca esbranquiçada nas costas. Outra sequela foi uma deformidade na coluna vertebral por falta de mergulhos. Na Praça do Derby, ganhava pipoca das crianças, admiração de adultos, mas também levava pedradas.

Entre 1970 e 1992, quando finalmente foi transferida para Itamaracá, com a inauguração do Centro de Mamíferos Aquáticos, Xica era visitada por dezenas de pessoas, principalmente crianças. Pena que sua residência não era das melhores. Por conta das dimensões reduzidas do seu tanque, acabou ficando “corcunda” e com queimaduras. No seu novo e espaçoso lar, acabou mantendo a vida solitária, não fazendo contato com os outros das espécie. Mesmo assim, engravidou duas vezes. O segundo filhote, com má formação, ainda resistiu por três anos.

Crédito: Diógenes Montenegro/DP/D.A Press - Em agosto de 1992, Xica passou por exames médicos antes de ser levada para o novo lar em Itamaracá

Crédito: Diógenes Montenegro/DP/D.A Press – Em agosto de 1992, Xica passou por exames médicos antes de ser levada para o novo lar em Itamaracá

Xica também era filhote quando foi capturada, em 1963, em um curral de pesca em uma praia do município de Goiana. Ficou por sete anos em um tanque de um fazendeiro, até surgir o interesse da Prefeitura do Recife. Já em 1970, o ainda Chico sofreu com as enchentes registradas no mês de agosto, quando o tanque do Derby foi tomado pelas águas da chuva. Em 1975, o mesmo drama se repetiu. Após um dos maiores dilúvios da história, entre 17 e 18 de junho, as autoridades se esqueceram do peixe-boi. Pois não é que o animal permaneceu no seu lugarzinho, alimentando-se do capim que vinha boiando pela correnteza?

Crédito: Diógenes Montenegro/DP/D.A Press - Operação de guerra foi montada para a transferência de Xica, em 1992. Peso e comprimento foram registrados

Crédito: Diógenes Montenegro/DP/D.A Press – Operação de guerra foi montada para a transferência de Xica, em 1992. Peso e comprimento foram registrados

Os maus-tratos, mesmo que de forma involuntária, transformaram Xica em um símbolo pelos direitos dos animais. A Associação Pernambucana de Defesa da Natureza (Aspan), com o apoio do Projeto Peixe-Boi/Ibama-FMA, iniciou em 1991 uma campanha para a transferência de Xica. Um ano depois, coincidentemente o da realização da Rio-92 – a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – a mascote do Recife foi viver o resto dos seus dias em Itamaracá. Levantar o animal de quase 400 quilos e três metros de comprimento exigiu uma verdadeira operação de guerra.

Crédito: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press - Tanque da Praca do Derby, onde Xica viveu por 22 anos, em registro feito em 2013

Crédito: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press – Tanque da Praca do Derby, onde Xica viveu por 22 anos, em registro feito em 2013

Xica morreu aos 52 anos de idade, mais do que a média da sua espécie. Ficou na memória de gerações de recifenses.