Cenário dos festejos juninos no Recife, o Sítio da Trindade, localizado em Casa Amarela, é um dos pontos com mais história do Recife. Durante a ocupação holandesa, entre 1630 e 1654, foi ali que Matias de Albuquerque ergueu o Forte do Arraial do Bom Jesus. Depois do conflito, o local passou às mãos da família Trindade Peretti, que deu o nome o que permanece até hoje. Pois este patrimônio todo, formado por 6,5 hectares de área verde e um chalé de 600 metros quadrados, correu o risco de ser tomado por edifícios, apagando o passado do mapa. Coube a um jornalista do Diario de Pernambuco encabeçar a luta contra um francês que se dizia dono do terreno, chegando até a ser processado por causa dos seus editoriais. Membro da Academia Pernambucana de Letras e do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, Aníbal Gonçalves Fernandes venceu a peleja jurídica, para o bem dos recifenses.
Nos dias 2 e 23 de dezembro de 1952, então diretor do Diario de Pernambuco, Aníbal Fernandes publicou textos alertando para o risco do desaparecimento do Sítio da Trindade. Após a morte do proprietário Anselmo Peretti, a viúva não viveu muito tempo e a herança ficou para três sobrinhos estrangeiros, um residindo no Peru, outro na Argélia e o último na França. Como não houve entendimento, a solução que eles queriam era vender todo o terreno e embolsar o dinheiro. O francês Paul Antoine Evin não gostou do que leu e entrou com uma queixa de injúria e difamação contra o jornalista.
O processo correu rápido. No dia 12 de abril de 1953, Aníbal Fernandes teve concedido, por unanimidade, habeas corpus que acabou com a queixa-crime. Ele afirmou que, escrevendo os artigos, não teve a intenção de injuriar ou difamar a quem quer que seja, cumprindo apenas o seu dever de jornalista e de pernambucano, que é velar pelos interesses da cidade do Recife, a fim de evitar prejuízos ao seu panorama histórico e tradicional.
A mobilização resultou vitoriosa. Ainda em 1952, o Sítio da Trindade foi desapropriado e declarado com um bem de utilidade pública. No dia 17 de junho de 1974, o local foi classificado como um conjunto paisagístico e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).