A capa do Diario de Pernambuco de 18 de agosto de 1987, uma terça-feira, trazia como manchete a formação de um lobby de governadores, entre eles o de Pernambuco, Miguel Arraes, para atuar na Constituinte. No México, o presidente Sarney buscava uma solução para a dívida externa. Favelados enfrentavam a PM no Rio de Janeiro. O preço da charque havia subido mais uma vez e a CBF enfrentava uma crise que ameaçava a permanência de Otávio Pinto Guimarães e Nabi Abi Chedid. No Aníbal Bruno, a denúncia de torturas de presos. Na parte inferior da capa, um senhor de óculos, camisa estampada e careca assumida, encarava o leitor como uma despedida. Era Carlos Drummond de Andrade, o poeta mineiro que havia falecido no dia 17 de agosto aos 84 anos de idade, no Rio de Janeiro.
A chamada da capa do Diario informava que a poesia estava de luto e que Drummond havia morrido como um poeta. Praticamente se recusou a tomar os remédios e se negava a seguir os conselhos médicos após o segundo infarto. Na página A16 do jornal, dedicado às últimas notícias, a manchete dava a dimensão da perda do autor de José, Quadrilha, No meio do caminho e outras obras que se incorporaram ao repertório cotidiano do brasileiro, o maior triunfo para um autor: “Agosto terrível. Morre Carlos Drummond”.
Drummond morreu um mês depois do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre. O país perdia em exatos trinta dias dois dos seus principais intérpretes. O poeta mineiro já sinalizava que sua obra já estava completa. Desde o óbito da filha única, Julieta Drummond, havia perdido o gosto de viver.
Apesar de ter se tornado um sucesso de público e crítica como poeta, Drummond gostava de ser chamado de jornalista. Era um leitor voraz dos periódicos. Através deles, dizia, tomava consciência do mundo.
Trabalhou em jornais por 64 anos, como redator, secretário e cronista – sua obra completa foi relançada recentemente pela editora Companhia das Letras – e não gostava quando chamavam jornal de empresa. “Empresa é fábrica de chouriço, que faz tudo em série”.
Considerava que um jornal não é feito apenas de fatos, mas de vida, amor, um produto diferente a cada dia. É o que tentamos fazer até os dias de hoje.
Publicado no seu quarto livro, intitulado justamente “José”, em 1942, o poema “José” foi musicado pelo pernambucano Paulo Diniz em 1974. Este vídeo de 2009, com a própria narração do poeta, tem a produção da Creative Pixels, com trilha sonora, montagem e edição de Victor Ricardo.