Para os padrões de 1974, a diagramação da página de Polícia do Diario de Pernambuco era ousada. Sobre a foto de um homem de óculos com o braço direito levantado, a manchete: “O inimigo número um de ladrões”. Seria ele um policial? Um justiceiro tão comum naquela década? Na verdade, o autor de frases como “ladrão só lê na cartilha da chibata” era um padre. Severino Gomes Santiago.

Nascido em 1930, em Vitória de Santo Antão, ordenou-se em 1955 e logo depois foi tomar conta da paróquia do Vasco da Gama, na Zona Norte do Recife. Tomar conta mesmo. Construiu escola, posto de atendimento médico, fez ações assistenciais e incentivava os moradores a procurar a polícia quando eram vítimas de bandidos, fossem ladrões ou traficantes. Falecido no dia 23 de abril de 1991, tornou-se depois nome de rua no lugar que defendeu com unhas e dentes. Em 2007, a Câmara do Recife concedeu-lhe post-mortem a Medalha José Mariano.

No dia 2 de setembro de 1974, o Diario de Pernambuco traçava o perfil do polêmico sacerdote: “o padre Severino Gomes Santiago é inimigo número um de ladrões, traficantes de maconha e outros marginais. Já trocou tiros com os bandidos, é favorável que a polícia os espanque e acha que só há meio de acabar com o crime: matar os marginais perigosos, mas sem torturá-los”. Um padre a favor da violência? Um Vasco da Gama pacificado era o seu maior cartão de visita.

Dois anos antes, em 26 de julho de 1972, Severino Gomes Santiago já havia se tornado manchete do Diario ao rebater as acusações do traficante Moacir José da Silva “Abanal”, que dizia que o padre havia tramado a sua morte. Ele negou a iniciativa, afirmando que “Abanal” era um marginal “pé de chinelo”. Sobre sua relação com os bandidos? “Procuro recuperá-los, mas quando não há outra solução o remédio é enfrentá-los”.