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Elizabeth Alexandra Mary, nascida em 1926, tornou-se neste 9 de setembro de 2015 a monarca a ocupar por mais tempo o trono britânico. Ela completou 63 anos e 216 dias de reinado, superando a marca de sua bisavó, a rainha-imperatriz Victoria (1819-1901). Deste longo período à frente do Reino Unido e de quinze outros estados independentes, Elizabeth II dedicou pouco mais 16 horas ao Recife, sob a vigilância de 4.000 policiais e acompanhada por 400 repórteres brasileiros, norte-americanos e europeus.

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A capital pernambucana foi o início e o final de uma viagem de 18 dias ao Brasil e ao Chile no final de 1968. Aos 42 anos de idade, acompanhada do Duque de Edimburgo, seu marido desde 1947, Elizabeth II contagiou seus novos “súditos” recifenses pela simpatia, tudo devidamente registrado no Diario de Pernambuco, que dedicou páginas e páginas à personalidade capaz de reunir cerca de 200 mil pessoas na sua chegada no dia 1º de novembro daquele ano.

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Antecipando a chegada do casal real britânico ao solo pernambucano, o Diario trouxe na sua capa da própria edição do dia 1° de novembro uma foto grande de Elizabeth II e Philip sorridentes em uma carruagem, abaixo da manchete: “Elizabeth reina duas horas no Recife”. Há dois meses os moradores locais estavam sendo bombardeados da importância da visita. Não à toa, o texto da capa do jornal destacava que as ruas do Recife se transformariam, “se não num cenário de contos de fadas, pelo menos no palco de um acontecimento que por certo marcará época na memória do povo e nos anais da sociedade”. Além de cinco páginas, o jornal ainda foi às ruas com um suplemento especial contando a história da realeza britânica e a influência inglesa no Recife.

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O casal real e sua comitiva de 23 pessoas desembarcou no aeroporto internacional dos Guararapes pontualmente às 16h15, vindo do México a bordo de um VC-10 da Royal Air Force (RAF). Depois da recepção protocolar de praxe na base aérea, as personalidades desfilaram em carro aberto – o Lincoln do governo do estado – e acenaram para a multidão nas ruas por um trajeto de 15 quilômetros até o palácio do Campo das Princesas, onde 180 personalidades do Recife participariam de uma festa pensada nos mínimos detalhes.

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Mas nem tudo saiu como planejado, como informou o Diario na edição de 2 de novembro. Quando Elizabeth II – com um vestido em detalhes de verde e amarelo – começava a ser apresentada às autoridades e convidados, faltou luz no Recife e o palácio ficou às escuras. A estação da Chesf no Bongi havia entrado em pane. O Duque de Edimburgo – chamado por algumas mulheres no aeroporto de “pão” e “bacana” – pegou um candelabro e foi ver os quadros de Lula Cardoso Ayres, que estavam em exposição. A rainha foi também guiada sob a luz de velas. Ao se encantar com o quadro Sombra verde, de Lula, ganhou-o de presente. A monarca não comeu nada, alegando ter “merendado” a bordo do avião, mas tomou um refresco de pitanga. Por falar em frutas, as uvas que serviam de decoração foram devidamente consumidas pelos repórteres brasileiros e depois os estrangeiros. Logo os jarros ficaram vazios. O escuro facilitou o “roubo”.

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A falta de energia não atrasou o cronograma. Às 18h30, a comitiva real britânica seguiu para o Armazém 12 no Porto do Recife. Lá estava ancorado o Britannia, o iate real que na época só perdia em luxo para o do armador grego Alexandre Onassis, que seguiria viagem para o sul do continente, parando primeiro em Salvador. Às 19h40, a embarcação saiu da barra.

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A capa do Diario da primeira etapa da presença de Elizabeth II no Recife trouxe três fotos, uma da recepção do aeroporto, outra da chegada ao palácio e a última da parada da comitiva em frente à sede do jornal, na Praça da Independência, uma deferência à memória de Assis Chateaubriand, o presidente dos Diários Associados falecido em abril que serviu como diplomata na Inglaterra. A edição trouxe ainda duas páginas apenas com fotos e pequenas legendas, além de um texto assinado do colunista social João Alberto, trazendo bastidores curiosos da quebra de protocolo.

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No dia 18, o casal real retornou ao Recife para uma permanência de 14 horas, a maior parte a bordo do iate Britannia. A aeronave real tocou o solo às 16h55, mas somente às 17h40 Elizabeth II e o Conde de Edimburgo apareceram para acenar para os populares. Desta vez não havia uma multidão como no dia 1º.

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Trajando um vestido marrom, com listras brancas, formando tijolinhos e um colar de três voltas e um broche, Elizabeth II desembarcou no Recife vindo do Chile. Ela foi levada ao Porto do Recife, onde já esperava o seu iate real, o Britannia. A recepção às autoridades locais foi feita no salão principal da embarcação. Foram servidos uísque, gin e refrigerantes ingleses, além de batatas fritas e bolachinhas.

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Elizabeth II fez questão de dizer, em mais de uma oportunidade, que foi no Recife que recebeu a mais carinhosa recepção. Na despedida, teria dito: “parabéns por morarem numa cidade tão encantadora e obrigado pela visita”.

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No dia 19, a comitiva da rainha saiu do iate Britannia ancorado no armazém 12 do Porto do Recife às 7h e cumprimentou as autoridades locais. Depois disso, embarcou no Lincoln do governo do estado em direção ao aeroporto dos Guararapes. A seu pedido, a capota do veículo foi arriada para que a monarca pudesse ver a praia de Boa Viagem. a rainha acabou não recebendo a chave da cidade, que o prefeito Augusto Lucena havia mandado fazer. Às 7h40, o VC-10 da Royal Air Force (RAF) decolou dos Guararapes, levando Elizabeth II e o Duque de Edimburgo para Londres. Era o fim da visita de 18 dias ao Chile e ao Brasil.

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No dia 20, o rescaldo da cobertura da visita da rainha ficou a cargo do colunista João Alberto. Além dos bastidores, ele relatou a tentativa de diversas pessoas para chegar próximo a Elizabeth II. Como curiosidade, no mesmo jornal foi publicada uma foto informando que as Indústrias Alimentícias Maguary receberam, via Varig, a encomenda de 200 abacaxis que seriam consumidos pela rainha.