Há 45 anos, um defeito técnico no jato Vickers VC-10 da BUA fez com que o escritor e diretor de cinema italiano Pier Paolo Pasolini e a cantora lírica norte-americana de ascendência grega Maria Callas conhecessem por pouco tempo o clima recifense. Na verdade, foram exatamente cinco horas, o suficiente para que embarcassem em um Caravelle da Cruzeiro com destino ao Rio de Janeiro. As duas personalidades participariam de um festival de cinema em Punta Del Este, no Uruguai. Como noticiou o Diario de Pernambuco na capa do dia 14 de março de 1970, “Maria Callas foi transformada em estrela do último filme de Pasolini”.

Como mantinha repórter de plantão no aeroporto, o jornal conseguiu conversar com as duas celebridades e ainda registrar em foto a presença ilustre inesperada. A conversa foi breve, até porque a abordagem foi sobre uma improvável relação amorosa entre a cantora lírica e o diretor. “Somos apenas bons amigos”, disse Maria Callas, que além de sua carreira nos palcos de ópera ficou conhecida internacionalmente pelo seu romance conturbado com o milionário armador grego Alexandre Onassis.

Callas voltou a ser capa do Diario sete anos depois, mas de forma mais triste. No dia 17 de setembro de 1977 – há exatos 38 anos – o jornal noticiava a morte da cantora lírica por um ataque cardíaco. Ela estava com 53 anos de idade. Na capa, uma foto de arquivo dela com Onassis, um amor que lhe trouxe muito sofrimento. Seu nome verdadeiro era Maria Anna Cecilia Sofia Calogeropoulos, nascida em Nova York em 2 de dezembro de 1923.

Em 1998, o músico e regente italiano Franco Battiatto lançou no seu álbum Gommalacca a música Casta Diva, onde usa trechos da cantora interpretando trecho da ópera Norma, de Bellini, um dos hits do repertório da soprano. É uma peça que traduz bem a vida conturbada de Callas, uma voz que ainda ecoa.

Casta Diva

Greca, nascesti a New York,
e lì passasti la tua infanzia con genitori e niente di speciale.
Fu un giorno che tua madre stanca dell’America e di suo marito,
prese i bagagli e le vostre mani,
vi riportò indietro nella terra degli Dei.
Eri una ragazzina assai robusta.
Non sapevi ancora di essere divina…
ci hai spezzato per sempre il cuore.
Ti strinse forte il successo ballò fino a sera con te
la musica non ti scorderà mai.
Viaggiasti e il mondo stringesti.
Ti accoglievano navi, aerei e treni,
invidie, gelosie e devozione.
Un vile ti rubò serenità e talento.
Un vile ti rubò serenità. Un vile ti rubò.
Divinità dalla suprema voce
la tua temporalità mi é entrata nelle ossa.