José Abelardo Barbosa de Medeiros (1917-1988), o Chacrinha, voltou à crista da onda 27 anos depois da sua morte. O apresentador pernambucano (de Surubim) foi tema de uma biografia lançada no final de 2014 e assinada por Denilson Monteiro. O material tornou-se a base para a montagem de um musical que aporta neste fim de semana no Recife. No papel do comunicador, o ator Stepan Nercessian. O homem que balançava a pança e buzinava a moça e comandava a massa sabia da sua importância como comunicador. Tanto que a esculhambação do seu programa era uma reação premeditada à pausterização do conteúdo de uma televisão que começava a alcançar todo o território nacional.
No dia 3 de novembro de 1974, o Diario de Pernambuco trouxe uma declaração de Chacrinha criticando o fato de que a televisão estava caminhando para sofisticação via Embratel, importando e americanizando-se. O desabafo foi feito ao jornalista Samir Abou Hana, que em breve deixaria o impresso para se aventurar em frente das câmeras, onde distribui “ternurinhas” até hoje. Já com programa de rádio, Samir Abou Hana tinha o seu próprio “jornal” dentro do Diario, onde procurava trazer depoimentos exclusivos e polêmicos de personalidades.
Chacrinha rasgou o verbo: “o folclore regional, os valores do Norte/Nordeste, do Oeste do país e do extremo Sul não estão sendo promovidos”. E mais: “Sempre procurei, no meu programa, fazer uma espécie de pastoril, de reisado, do popular, do divertido. A porta da igreja do Nordeste, os cantadores, as gozações. Isso tudo é gente brasileira, costumes nacionais, folclore. Jamais conseguirão me levar para esse falso tipo sério de TV”.
No dia 10 de novembro de 1974, Samir Abou Hana trazia mais uma bomba no seu “jornal”: Nelson Ned, um dos maiores cantores do Brasil – sem nenhuma ironia em relação à sua baixa estatura – queixava-se de que os artistas tinham que “rebolar” para conseguir fazer com que suas músicas fossem tocadas. Ele defendia um maior critério das gravadoras ao escolher novos cantores. E era contra composições com erros primários de português. “O cantor Maurício Reis é campeão em gravar músicas onde não se respeitam princípios elementares do idioma”, entregou.