Feliz da família que faz de uma criança espelho para a renovação de uma casa
Silvia Bessa (texto)
Rafael Martins (foto)
Uma criança oxigena um lar. Mesmo de olhos fechados, você poderá sentir o cheiro de uma. O pensamento quase sempre irá ao encontro dela. Ouvirá vozes, esteja o seu pequeno filho, sobrinho ou neto calado ou gritando no quintal ou no último degrau da escada. Criança perambulando pelos cômodos pode ser bagunça e oportunidade para adulto lidar com adaptações. Dedicação exclusiva e teste para quem se acostumou a controlar tempo e pessoas. Tentação para dizer mais sim do que não. Descobertas, reencontro com a infância, suspiros, sono partido, bom dia com abracinhos preguiçosos.
Quem tem quatro miúdos, algo raro nos dias de hoje, depõe: “Muda totalmente a ambiência, mas a vida fica com mais sentido”, disse-me Daiane Tiné, mãe de trigêmeos com cinco anos e de um garotinho de dois anos. “Gosto tanto de ser mãe de quatro que onde chego é a primeira coisa que falo”, ri, ao contar a sua rotina, orgulhosa da família. “Trocamos de casa para acomodar todos e temos outras preocupações. Mas ganhamos musculatura para tudo”, garante.
A história de Daiane demonstra como crianças trazem leveza para uma casa. Bancária e casada com o vendedor Alexandre Tiné, os dois formavam um casal apaixonado. O casamento já durava cinco anos e eles evitavam uma gravidez tomando anticoncepcionais. Esperavam, como a maioria dos casais jovens contemporâneos, estabilidade profissional e financeira. Até que Daiane passou no concurso do Banco do Brasil, o desejo de aumentar a família cresceu e ela resolveu suspender o remédio. Alguns meses e nada. Um ano. “Na idade de vocês, desde que tenha regularidade na atividade sexual, é difícil que não se engravide”, disse o médico para eles. “Procuramos um especialista. Fizemos os primeiros exames e, a partir deles, observamos que havia alterações extremas que impediam que a gente conseguisse ter o primeiro filho”, conta ela.
O desejo de serem pais, de ter uma criancinha para dar cores à casa deles, parecia ficar maior. Daiane e Alexandre foram práticos e resolveram fazer tratamentos. O médico avisou: em seis meses vocês terão o ambiente perfeito para que Daiane engravide. Em maio de 2009, fizeram uma fertilização in vitro para realizar o sonho. Três embriões foram implantados. Nenhuma garantia de que iriam sobreviver e resistir às fases de gestação. “Com dez dias, achei meu marido muito triste. Não sabia qual a razão. Resolvi fazer um teste de farmácia. É raro conseguir resultado com tão pouco tempo, mas eu arrisquei. Foi positivo”, lembra. Ao fazer o Beta Hcg, hormônio que indica gravidez, deu altíssimo, o que apontava para uma gravidez múltipla. Isabela Carolina, Isadora Carolina e João Augusto nasceram no dia 16 de dezembro de 2009, saudáveis com 32 semanas de gestação, depois de uma gravidez com fases de repouso e de enfrentar o diagnóstico de pré-eclâmpsia. “Me perguntam como foi cuidar de trigêmeos e eu digo: ‘não sei como passei aquele período, só sei que passei”.
Pensava-se que o núcleo familiar estava formado. Daiane, por conta dos tratamentos de dificuldades de o casal engravidar na primeira gestação, não voltou a usar anticoncepcionais. Acabou dando brecha ao destino. “O médico não concordou com a ligadura porque o risco de prematuridade era grande, então não liguei as trompas. Mas também não queria ligar. Achava tão injusto com Deus desejar tanto engravidar e, depois que consegui, fechar as possibilidades”, explicou-me.
Assim foi o primeiro capítulo da maternidade dela. Quando Isadora, Isabela e João estavam com quase dois anos, a mãe fez uma plástica de abdômen. Nunca havia atrasado a menstruação. “Alô, Alexandre, traga quando vier um teste de farmácia”, pediu ao marido numa noite qualquer. Ele estranhou, era tão improvável que houvesse uma nova gravidez. Os trigêmeos tinham menos de três anos.
Era Alexandre, o quarto filho chegando. “Fiquei atordoada porque pensei que, se já não era suficiente para três, como seria mãe para quatro?”. Tinha de ser: “a natureza agiu por si só”, como diz Daiane. Alexandre estava para nascer na data próxima do aniversário dos trigêmeos. A mãe insistiu para que a data da cesárea fosse marcada. O médico aceitou. Intuição. Alexandre nasceu laçado três vezes, 4.200 quilos e 52 centímetros. Havia se enrolado logo após a última ultrassonografia e um dos nós no cordão umbilical era perfeito, como dizem os médicos, e isso significava mais risco para o parto.
Alexandre chegou no dia 16 de dezembro de 2012. Na mesma data dos irmãos.