Em Foco 1510

O que ocorreu com elas poderia ter ocorrido com qualquer um de nós. Nativos ou estrangeiros, somos todos alvos.

Vandeck Santiago (texto)
Nando Chiappetta (foto)

Violência contra turistas acontece no mundo inteiro. O governo francês, por exemplo, está empenhado em aumentar a segurança deles para tornar a atrair os turistas chineses – que, cansados de ser vítimas preferenciais dos roubos na capital francesa, começaram a incluir cada vez menos a cidade em seus roteiros. Em março de 2013, um grupo de 23 chineses recém-chegados a Paris foi assaltado em frente a um restaurante. Em Paris, a cidade que mais recebe turistas no mundo.
Em Orlando (EUA), outro paraíso do turismo mundial, 233 turistas brasileiros foram assaltados em 2014 (dados até setembro, não computados os casos dos três meses restantes). Entre as “modalidades” da violência estão o arrombamento de veículos e até de quartos de hotéis. Para quem vai aos shoppings e outlets, recomendações de segurança incluem trancar bem o carro e não deixar nele documentos nem itens de valor, além de procurar estacionar em lugar claramente seguro (próximo aos seguranças, por exemplo).
O turista é um alvo cobiçado por ladrões aonde quer que vá – é alguém perfeitamente reconhecível (roupa, tipo físico etc.); com certeza leva bens e dinheiro e costuma estar desatento (ou pelo menos tem “largos momentos de desatenção”).
Por isso, quando infelizmente um turista é atacado no Rio, em Salvador ou no Recife, nos deparamos com uma violência que nos causa incômodo (como o de ver alguém de fora ser maltratado em sua casa), mas isso não quer dizer que somos o pior lugar do mundo, o lugar onde não se respeita nem o estrangeiro que vem nos visitar.
Uma infelicidade dessas aconteceu na manhã de ontem, no Recife. Duas garotas belgas, S. H., de 23 anos, e L. U., 24, foram agredidas e roubadas por um homem armado de faca, no Cais José Estelita. Perderam dinheiro, cartão de crédito e um iPhone. Um fotógrafo do Diario, Nando Chiappetta, ia passando no local, desceu do carro e tentou ajudá-las, mas não conseguiu chegar a tempo de evitar o assalto. É dele a foto nesta página (as moças não quiseram ter o rosto fotografado).
Aqui chegamos a um ponto importante. Violência contra turistas acontece no mundo todo – mas isso não significa que os casos são iguais. No Rio, em Salvador, no Recife, no Brasil, temos no ato o componente bárbaro da brutalidade, como o de que foram vítimas as moças belgas. A faca, o revólver, a agressão física, a disposição até de causar a morte do outro. Foi grave o que ocorreu com as duas moças, mas se o desfecho tivesse sido trágico nós estaríamos aqui lamentando, porém não surpresos, porque nesses casos vemos “desfechos trágicos” todo dia.
Se o que aconteceu com Sarah e Laura fosse algo que, aqui, acontecesse apenas com turistas, ainda assim seria algo grave e merecedor de atenção. O tipo de ato capaz de nos deixar envergonhados e desejosos de pedir desculpas às vítimas. O problema, no entanto, vai muito além dos limites dessa hipótese. O que ocorreu com elas poderia ter acontecido com qualquer um de nós. Nativos e estrangeiros, não importa, somos todos alvos.