Em Foco 1610

Embates entre professores e alunos por causa do uso indevido do celular tornaram-se comuns e muitas vezes têm anuência de pais.

Silvia Bessa (texto)
Fábio Cortez (foto)

Das notícias e parabenizações voltadas para o Dia do Professor que circularam nas redes de relacionamento e nos grupos de amigos e familiares de WhatsApp, a mais interessante foi aquela que tratava da decisão do juiz Eliezer Siqueira de Souza Júnior. Ele julgou improcedente ação contra o professor Odilon Alves Oliveira Neto, acusado de reclamar e tirar durante uma aula das mãos de um aluno um aparelho de celular com fones de ouvido. O fato aconteceu no município sergipano de Tobias Barreto e a sensatez do magistrado repercutiu por todo o Brasil. Induzida pela data festiva a pensar mais no professor e no papel social que ele exerce, saltou-me a seguinte informação: Thiago Souza, que era de menor, foi representado perante a Justiça pela mãe, Silenilma Eunide Reis.
Thiago (ou a mãe) alegava, segundo autos, “sentimento de impotência, revolta, além de um enorme desgaste físico e emocional”. Que o celular estava sendo utilizado apenas para ver as horas. Enfim, o juiz não acreditou (e eu também não acreditaria), considerou contradições quanto ao uso dos fones, plugados e com som de música, e acabou por ser favorável ao docente, negando o direito na ação. Numa pesquisa sem critérios estatísticos, mas com apuração jornalística com profissionais da educação pude concluir que essa é a rotina nas escolas. Embates entre professores e alunos em virtude do celular são regulares e têm a anuência, em alguns casos, dos familiares.
Pasmem. Tem mãe e pai, adulto e dos quais se espera atitudes supostamente responsáveis, que sequer esperam o horário regular da aula para ligar para o filho e perguntar se vai se atrasar para o almoço. Isso mesmo, esse tipo de pergunta simplória. Quando o professor vê, o rapazinho ou a mocinha já atendeu, conversou, fez graça, o desautorizou e, ao desligar, achou que estava tudo certo justificando: “Era mainha”, como se a resposta abonasse qualquer infração. Uma amiga contou-me que na última quarta-feira entrou numa celeuma com uma turma de 8º ano porque o rapaz se negou a desligar o aparelho em plena aula e disse desconhecer a lei. Além de confirmar a prática comum de desrespeito ao professor – para mim, absurda – minha amiga deu uma definição sobre o que se passa na cabeça de parte da estudantada que ganha a “parceria” da família nesse mau hábito. “De acordo com a educação doméstica que recebem, alguns acham que podem fazer aquilo”. Usam, assim, o celular quando bem entendem, sem respeito à coletividade, disciplina ou regras escolares ou legais.
A utilização de celular e equipamento similar eletrônico – terror do professor nos dias atuais –  é proibido nas salas de aulas e em bibliotecas das escolas públicas e particulares em Pernambuco. A lei, de nº 15.507, é de 21 de maio de 2015 e prevê punições para normas que são desrespeitadas. Cada escola tem suas regras e a elas o respectivo aluno está submetido e sujeito às punições. Devem as escolas dar publicidade à proibição, afixando avisos informativos. Há exceções para o uso dos eletrônicos para fins pedagógicos. Pernambuco segue a orientação de outros estados, que criaram leis parecidas há quase uma década (São Paulo, por exemplo, foi em 2007). Questiono a proibição de forma ampla nas escolas porque penso que hoje em dia não se pode excluir cidadão nenhum, sobretudo jovens, ao uso da tecnologia. Acho que teremos ajustes com o tempo com relação às regras e à lei, assim como há alguns anos mudamos a forma de aceitar o uso de internet e redes sociais em ambientes corporativos. São pontos passíveis de debates, questão de tempo.
Urgente é discutir o que está implícito no (mau) uso dos celulares nas escolas. Por trás dos eletrônicos, existe a questão dos limites, a falta ou afrouxamento deles sobretudo para crianças e jovens. Se espera que o professor oriente o aluno e repasse valores sociais, mas não se dá exemplo em casa? A sociedade se acostumou a cobrar da escola e do professor a responsabilidade pela educação de nossos filhos. Tem quem teime em não ver, mas os protagonistas estão fora das salas de aula. Somos nós mesmos. E é preciso discernimento nessa tarefa porque ser cúmplice de filho, quando se fala de má educação, não é educar.