Em Foco 1810

Pesquisa constata que 71,6% dos estudantes já praticaram infrações no ambiente escolar, como apropriar-se do texto de outros ou pedir para ter o nome incluído em trabalhos dos quais não participaram.

Vandeck Santiago (texto)
Roberto Ramos (foto)

Levanta a mão aí quem já filou em provas na escola. Ok, podem baixar. Agora, levanta a mão quem já plagiou algum texto e entregou ao professor dizendo que era seu. Ok, podem baixar. Para encerrar, levanta a mão quem já pediu para os colegas incluírem seu nome em um trabalho sem ter participado de nenhuma atividade dele (às vezes não sabe nem do que se trata). Ok, podem baixar.
Se em vez de leitores vocês fossem alunos em uma sala de aula, não há dúvidas que a maioria teria erguido as mãos todas as vezes. Nem precisa pesquisa para constatar isso, mas um levantamento estatístico ajuda a dar caráter científico a comportamentos que todos nós conhecemos do dia a dia. O centro universitário Unicarioca (RJ) fez uma, e divulgou os resultados esta semana. Foram entrevistados 1.100 estudantes no Rio de Janeiro, com idades entre 16 e 30 anos, do ensino médio e superior. Vejam a resposta aos atos que elencamos no primeiro parágrafo: 69% disseram ter filado em provas; 68% assumiram ter plagiado textos e 58% confirmaram ter pedido a colegas para incluírem o nome em trabalhos do qual não participaram em nada. No geral, 71,6%% dos estudantes entrevistados admitiram ter cometido atos de corrupção no ambiente acadêmico. O restante, 28,4%, assegurou nunca ter praticado nenhum ato irregular na escola. (A pesquisa não faz este detalhamento, mas creio que seria interessante também avaliar a frequência com que o aluno comete as infrações, e se as comete todas ou só uma ou outra. No final as irregularidades estarão lá, mas com penas diferentes.)
Não me arrisco a dizer que efeito essa prática, que como alunos consideramos normal no ambiente escolar, que efeito essa prática tem sobre nós, quando nos tornamos profissionais. É claro que uma coisa é cometer uma dessas infrações na escola e outra é receber propina ou desviar milhões de empresas ou órgãos públicos – são diferentes e estão muito distante uma da outra, mas é importante destacar que não são fenômenos opostos. No geral, será que vemos as trapaças no ambiente escolar como um ciclo temporário, que em nada determinará o nosso comportamento no futuro? Será que elas não afetam a percepção que teremos no futuro sobre “corrupção”? Será que isso tem desdobramentos na vida e na moral do país? Será que é muito diferente em outros países?
“Esses dados são preocupantes em todos os níveis de educação, desde o fundamental até o superior”, afirma o coordenador do Laboratório de Pesquisa da Unicarioca, Jaime Pereira. “O receio e o questionamento principal que fica desta pesquisa é se, acostumados a praticar estes atos na escola, os estudantes não chegarão ao mercado de trabalho querendo reproduzir este comportamento. Todas as pessoas que estão à frente de grandes empresas e em cargo importantes para o país foram alunos”.
Sabemos muito bem que, cientificamente, não podemos projetar o resultado para todo o Brasil. Mas todos nós, que fomos ou somos alunos, sabemos que a realidade no ambiente escolar não é muito diferente do constatado nesta pesquisa. Creio que nos faria um bem imenso se esta discussão se espalhasse pelas escolas e fosse encampada pelos estudantes e suas entidades.