Em Foco 2210

O parque deixou de ser referência para recifenses e é símbolo de uma cidade dividida.

Silvia Bessa (foto)
Alcione Ferreira (foto)

Sou do tempo em que o Parque 13 de Maio era objeto de toda sorte de negociação familiar no final de semana. As meninas guardavam roupa para o passeio e, a certa idade, na sexta-feira entravam no dilema se seria melhor separar o vestidinho de algodão com alcinhas ou usar um short para aproveitar o escorrego gigante, cuja escalada levava para um topo com ponta de foguete. Lembro que margear dentro de um ônibus ou de um carro pelo entorno do Parque 13 de Maio era atração para os olhos. Brilho na certa. Eu cresci. O 13 de Maio continua com seus 69 mil metros quadrados, mas, oh, que tristeza ver ou ler notícias sobre esse que deveria ser motivo de vaidade do recifense, parada obrigatória para turistas. Lugar para encontros destemidos a qualquer hora do dia, para crianças, jovens e velhos; solitários, namorados e grupos de parentes. Classes sociais diversas.
Ontem entrei no saudosismo e acabei por dormir com o pesar. Um idoso foi preso em flagrante assediando um garoto de 12 anos, informaram as matérias jornalísticas. As câmeras filmaram o homem conversando e beijando o menino e quando supostamente mostrava  partes íntimas para a vítima. Acabou preso, após perseguição de agentes da Guarda Municipal. Que triste, que triste! – pensei ao assistir ao vídeo postado nas redes sociais. Dei-me conta que os comentários dos leitores revelavam um eco, o drama vivido hoje pelo parque da minha infância.
O 13 de Maio continua frequentado, mas se transfigurou e o público minguou. Deixou de ser o parque. Sequer é lembrado por muitos recifenses. Conheço quem mora na Rua da Aurora, quase quintal do único parque do Centro da capital, que se larga para o Parque da Jaqueira (Zona Norte) com seus filhos agarrados em velocípedes. Até porque, garante um amigo chamado Marcos Andrey, no 13 de Maio, “os vigilantes barram a entrada até de bicicleta para criança de 3 anos alegando questão de segurança”. Sei que tem quem cruze o Recife da Zona Sul até a Zona Norte esquecendo que no Centro há um espaço livre enorme, com projeto idealizado pelo engenheiro Domingos Ferreira e concepção renascentista.
A partir dos relatos coletados na internet certifiquei-me que o quadro do 13 de Maio merece mesmo meu lamento. De acordo com os comentários, muitas pessoas não o frequentam porque já passaram por experiências de assédio sexual, acham o parque mal iluminado ou se sentem inseguros quanto a eventuais assaltos, sobretudo nos fundos do terreno. “Pois é, nesse parque é muito comum se ver homens assediando garotos”, afirma Weverton Santana. “Deixou de ser um lugar respeitável faz tempo”, diz Lis Beltrão. “Eu mesma já fui vítima (…) Me senti muito constrangida e nunca mais voltei lá”, afirma Luciana Silva. “Ultimamente o 13 de Maio não está sendo um bom lugar para passar o tempo”, declara Jacyara Maria. São só algumas das opiniões coletadas.
Quem responde pelo 13 de Maio é a Emlurb, ligada à Prefeitura do Recife. Quem cuida da parte da segurança é a Secretaria de Segurança Urbana. Fiz entrevista com o secretário Murilo Cavalcanti já entrando pela noite dessa quarta-feira. Ele me disse que, apesar de ainda haver registros, o número de ocorrências diminuiu muito após a instalação das câmeras de segurança há mais ou menos um ano. Da conversa, destaco a autocrítica feita por ele. Era exatamente onde eu queria chegar. Nos rótulos dados aos maiores parques da cidade, na divisão de espaços públicos segundo classes sociais.
Murilo Cavalcanti é pai de criança. Perguntei se ele levava a filha ao 13 de Maio. Ele me respondeu com uma negativa. Não me pareceu preconceito. Não passou pela cabeça dele a opção de passeio o 13 de Maio porque há outras melhores. No Recife, o Parque da Jaqueira, por exemplo, é muito mais limpo, iluminado, tem equipamentos em melhores condições de uso. Foi aí que Murilo, fã de projetos sociais e de inclusão implantados na Colômbia, disse-me: “Hoje o que existe aqui é uma cidade partida. Isso existe e é muito forte”. O que fazer?, perguntei. “A gente tem como setor público retomar essa discussão porque não se pode continuar assim com o parque dos ricos e o parque dos pobres”.
Torço por melhores notícias sobre o Parque 13 de Maio, por um espaço público que mereça não só o apreço da maioria do recifense mas respeito pelo que é; não só pelo que foi.