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Mobilidade é a palavra que está na ordem do dia no Recife. Com cada vez mais carros nas ruas, uma proposta que ganha força nas redes sociais é a classe média manter seus possantes na garagem e usar o transporte coletivo nos seus deslocamentos diários. Há 35 anos, esta ideia foi posta em prática na capital pernambucana, mas fracassou.

A Prefeitura do Recife investiu em estacionamentos periféricos onde os motoristas e seus acompanhantes deixariam seus veículos para prosseguir até o Centro em ônibus refrigerados, todos devidamente sentados. O primeiro a funcionar foi o da Rua da Aurora, com capacidade para 285 vagas. No dia 13 de dezembro de 1979, o Diario de Pernambuco registrou a iniciativa administrada pela Empresa de Urbanização do Recife (Urb).

Seis ônibus foram colocados à disposição dos usuários motorizados, com dois itinerários. Bastava pagar Cr$ 8. O conforto era tanto nos “Tranquilões”, como os coletivos foram apelidados pelo poder público, que os moradores do Centro do Recife reivindicaram de imediato o acesso aos busões com ar condicionado.

Em janeiro de 1980 entraria em atividade o estacionamento periférico de Joana Bezerra, que receberia os motoristas da Zona Sul. Para não perder a mania de grandeza dos recifenses, seria o maior do Nordeste, com vagas para 2.200 veículos. O último seria o do Complexo de Salgadinho, mirando os moradores de Olinda e Paulista.

A iniciativa não foi bem recebida pelos motoristas de táxi, que receavam perder corridas por causa da adesão dos motoristas ao novo sistema. O tempo mostrou que eles não tinham o que temer. O Centro do Recife deixou de ser o destino de trabalho da maior parte dos profissionais de classe média e poucos resistiram à tentação de deixar o carro na garagem e andar de ônibus. Os estacionamentos sumiram. Ficou apenas a publicidade otimista publicada no Diario em 21 de dezembro. Estávamos avançados demais no tempo?

O que diz o texto do anúncio:

Usando os Estacionamentos Periféricos que a Prefeitura Municipal do Recife está implantando, através da URB, com o apoio do Governo Federal e Estadual, você deixa seu automóvel em segurança e chega ao trabalho na hora, confortavelmente. Pagando apenas Cr$ 8,00, você recebe, no estacionamento, passagens de idade e volta para o centro da cidade – uma para cada passageiro que conduzir em seu carro. E embarca nos “Tranquilões”, ônibus exclusivos dos Estacionamentos Periféricos.

Os “Tranquilões” só levam pessoas sentadas e vão deixar você bem perto do seu escritório ou repartição. Você vai caminhar muito pouco (e caminhar faz bem à saúde). O sistema funciona das 7:00 às 21:00, nos dias úteis, e das 7:00 às 13:00, aos sábados. Entre deixar o carro no estacionamento, tomar o ônibus e chegar ao trabalho, você vai gastar menos tempo do que se levasse o carro diretamente ao centro e tentasse estacioná-lo.