Em Foco 06.12Balanço provisório do processo de impeachment mostra que, nestes primeiros dias, quem conquistou mais apoios foi a tese
contrária à medida.

Vandeck Santiago (texto)
Daniel Ferreira/CB (foto)

Três dias depois de Eduardo Cunha acatar pedido de impeachment contra Dilma Rousseff o balanço de apoios recebidos a favor de uma tese e outra é favorável à permanência da presidente.
Fora dos quadros da oposição que há tempos defendia o impeachment, nenhuma voz de peso levantou-se para apoiar a medida. Houve na sexta-feira um gesto preocupante para o governo: o pedido de demissão do ministro peemedebista Eliseu Padilha (Aviação Civil).  Entre os indicados pelo PMDB para o ministério, ele é o mais ligado ao vice-presidente Michel Temer, também peemedebista. O temor no governo é que houvesse uma debandada de peemedebistas do governo, o que representaria um afastamento do partido. Mas os dois outros ministros da legenda no governo – Marcelo Castro (Saúde), e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) – anunciaram que ficam no cargo.
Já contra o impeachment pronunciaram-se Marina Silva e o seu partido recém-criado;
oito dos 9 governadores do Nordeste, que divulgaram uma dura nota contra a medida, afirmando que ela representa “absurda tentativa de jogar a Nação em tumultos derivados de um indesejado retrocesso institucional” e que neste momento “em vez de golpismos, o Brasil precisa de união, diálogo e de decisões capazes de retomar o crescimento econômico, com distribuição de renda”. O governador de Pernambuco foi o único governador nordestino a não assinar a nota, mas não contestou seu conteúdo. Disse que “não houve tempo” para conversar sobre ela;
e o ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso (de Ciência e Tecnologia), economista Bresser Pereira, para quem o “impeachment da Dilma nasce morto”, porque “não tem base jurídica razoável”. Segundo ele, “a presidente tem muitos defeitos e dificuldades, mas não cometeu crime nenhum. É uma mulher de alta dignidade”.
Bresser não é nenhuma liderança política, não tem nenhum voto no Congresso e esta não é a primeira vez que defende tese favorável ao governo.  Sua inclusão nos argumentos aqui vem para nos remeter a outra área, a imprensa. A entrevista dele foi publicada no jornal Estado de S. Paulo, que está longe de ser um veículo, digamos, “governista”.  Outra informação contra o impeachment saiu em O Globo, sexta-feira. A reportagem do jornal carioca ouviu líderes dos 17 maiores partidos da Câmara, e segundo eles Dilma teria hoje o apoio de pelo menos 258 do total de 513 deputados. Para derrubar o projeto do impeachment são necessários os votos de 171 parlamentares. Garantidos, hoje, sem dúvida nenhuma, a presidente já tem 100 votos, informa a matéria. São aqueles dos deputado do PT, PSol e Rede.  Até a revista britânica The Economist, que faz tempo vem publicando reportagens sobre a crise brasileira, com ácidas avaliações do governo Dilma, trouxe na edição de sexta-feira matéria afirmando que, ironicamente, o pedido de impeachment aumenta as chances de sobrevivência da presidente. Diz que o ato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha,  “parece de vingança” e que a oposição não tem os 342 votos necessários para derrubar a presidente.
Neste balanço provisório deve-se ter em conta três pontos:  1) o gesto de Cunha foi majoritariamente visto como “vingança”; 2) a posição contrária ao impeachment não significa apoio ao governo Dilma; 3) há que estar atento à volatilidade dos acontecimentos. Se amanhã surgir algo incriminador contra Dilma, a situação pode mudar rapidamente.
Os dados computados aqui são dos últimos três dias; é prudente esperar o desenrolar dos acontecimentos nas próximas semanas. Até porque uma constante durante todo o ano foi que Dilma não conseguiu consolidar nenhum momento de agenda positiva para tentar reverter a crise política. Sempre que a situação parecia estar normalizando-se, ou arrefecendo, aconteceu algo que pôs a crise novamente em alta.