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Principal nome do Brasil no pentatlo moderno, a pernambucana Yane Marques se prepara com afinco para a Olimpíada

Ana Paula Santos (texto)
Hesíodo Góes/ESP.DP (foto)

Quarta-feira, 9 de dezembro. Dia de sol forte na capital pernambucana. O relógio apontava 11h14. Hora exata em que Yane Marques chegava em casa, no bairro de Campo Grande, depois de ter feito treinos de natação, corrida e musculação. O ano de 2016 já começou para a atleta, principal nome do Brasil na modalidade do pentatlo moderno. Mais do que nunca, ela segue à risca a programação elaborada pelo treinador Alexandre França. Afinal, ano pré-olímpico é assim. E Yane quer chegar nos Jogos Olímpicos do Rio-2106 em reais condições de brigar por mais uma vaga no pódio. Embora não verbalize qual a cor da medalha desejada, ela sonha com o ouro. Principalmente, por estar competindo em casa. No Pan-Americano do Rio, em 2007, ela foi soberana na festa intercontinental. O alto do pódio foi dela.

E para não haver atropelos e distrações até a Olimpíada, foi traçado um cronograma onde boa parte dos treinamentos de Yane vai ocorrer fora do país. Na última semana, por exemplo, ela já esteve em um camping em Bordeaux, na França. País muito visitado por ela desde que iniciou sua trajetória no esporte. Foi lá que a pernambucana teve a grata surpresa de conhecer Sebastien dos Santos, especialista em esgrima. O francês tem uma conta importante de participação na forma de jogar da sertaneja (Yane nasceu em Afogados da Ingazeira, Sertão do estado). Ela me conta que saiu da França, semana passada, com um turbilhão de ideias de jogo para colocar em prática na pista do Rio-2016.

Mas quando residia em Afogados, nem passava pela cabeça da loirinha de olhos azuis, neta de seu Coió, empunhar uma espada. Muito menos atirar, praticar montaria e nadar. “Natação em rio não dá”, comenta, sorrindo. Correr era a “praia” dela. Brincava solta pelas ruas do interior. “Tudo o que era brincadeira de rua. Jogava bola de gude, pega-pega, esconde-esconde, pião e barra-bandeira”, detalha a pentatleta, que aproveita feriados prolongados e as festas de fim de ano para voltar a Afogados da Ingazeira, onde residem seus avós e tios.

O pentatlo moderno passou a fazer parte da rotina esportiva da nadadora Yane Márcia Campos da Fonseca Marques, que completará 32 anos no próximo dia 7, quando os resultados na água já não lhes satisfaziam. Veio o convite para participar de um biatlo. E de cara, houve aquela identificação com um esporte que até pouco tempo era desconhecido do grande público. Era. Porque graças a Yane ganhou um pouco mais de notoriedade. Mas até hoje, as pessoas se confundem com o número de provas do pentatlo. Já tive a oportunidade de estar com a atleta em lugares públicos e as pessoas se dirigirem a ela com um certo receio de pronunciar o nome do esporte praticado por ela. Alguns perguntam até se ela também faz ciclismo. “Acho que o pentatlo começou a fazer parte da vida dos brasileiros graças às medalhas do Pan do Rio e o bronze, em Londres. Hoje, tá difícil passar despercebida”, diz.

E é justamente esse assédio que preocupa um pouco a equipe técnica da pentatleta. Ela mesma pretende adotar a receita que a fez chegar com a cabeça fresca no Campeonato Mundial 2015, em Berlim, na Alemanha. O bronze nesta competição credenciou a pernambucana a participar de sua terceira Olimpíada – esteve antes em Pequim 2008, Londres 2012 e agora no Rio. Ela me conta que perdeu o celular, enquanto saia da Bielorrússia. Faltavam duas semanas para a estreia no Mundial 2015. Yane só foi reaver o telefone 15 dias após a “perda”. Ela acredita que esse tempo longe de redes sociais, joguinhos e ligações só fizeram bem. “Esse tempo me fez ver que podemos sobreviver sem a loucura de estar o tempo todo conectada. Quando queria falar com meu marido (Aloisio Sandes) e minha família usava o computador. Fala rapidinho e pronto. Isso me ajudou muito no Mundial. Penso em adotar essa tática do Adeus, celular antes dos Jogos do Rio”, revela.

Esse é apenas um dos muitos sacrifícios que Yane Marques irá fazer. Outros, ela já vem fazendo. Tudo em nome de uma boa participação na Olimpíada do Rio. Passados três anos e quatro meses do feito inédito em Londres, Yane concilia seus treinamentos com a vida de casada efetivamente (se mudou este ano para a casa que construiu). Nas raras brechas dos treinos, costuma ir ao supermercado – quase sempre na companhia da mãe, dona Gorete, que também é sua vizinha. Dona Nenê ajuda, uma vez por semana, nos afezeres domésticos. A manutenção da casa de três quartos fica por conta da atleta e do maridão. Os dois juntaram as escovas após 11 anos de namoro.

É com ele e com toda a família que ela conta para manter o foco até o Rio 2016. Não há cobranças por causa das constantes viagens. “Preciso estar mais fora de casa mesmo. É um sacrifício que a gente sabe onde vai dar. Todo mundo aqui em casa se envolve. E Aloisio não cobra e me apoia em tudo. Ele até me aconselha sair, dar uma volta quando estou fora do Brasil. Digo a ele que prefiro ir para o hotel, dormir”, explica.

Sobre todo esse preparo para os Jogos Olímpicos, ela diz que algo é inevitável: a ansiedade. “Agora, não estou ansiosa, mas vou ficar. Não adianta achar que vou estar disputando um Brasileiro. É uma Olimpíada. Em 2007, no Pan, não sabia que tinha chance de vencer. Hoje estou vindo de um bronze olímpico. Hoje chego em condições de brigar pelo pódio”, avisa Yane, que neste ano foi agraciada com o Troféu Orgulho de Pernambuco – categoria esportes – oferecido pelo Diario de Pernambuco a personalidades de destaque do estado.