Este não é o único fator que explica a baixa participação popular nas manifestações de domingo, mas é um dos mais evidentes.
Vandeck Santiago (texto)
Lula Marques/agência pt (foto)
Penso assim: quanto mais políticos participam das manifestações de protesto, menos público estas manifestações conseguem reunir. Creio que esta é uma das explicações para a pouca quantidade de participantes nos atos do dia 13, em comparação com os três anteriores. Claro que eles têm o direito de também se manifestar junto com o povo, de convocar seus seguidores para também irem lá e coisa e tal. Mas a presença ostensiva pode gerar a ideia de que estão querendo apropriar-se do movimento. O primeiro ato deste ano, em março, que foi gigantesco, teve menos políticos. O sucesso deve ter sido um chamariz para a participação nos posteriores.
Só para efeito de comparação, vejamos que a participação no protesto de domingo foi cerca de 10% daquela de março. Outra comparação é com as Jornadas de Junho de 2013 – um dos fatores do seu sucesso foi a não participação dos políticos, tornando possível disseminar o sentimento de que o ato era “cívico”, e não “partidário” (na campanha das Diretas-Já e no impeachment de Collor, os partidos estavam na vanguarda, mas além de períodos históricos diferentes, na época tinha-se uma divisão que parecia um consenso de “um país inteiro contra aquilo”, diferentemente do que ocorre agora). Não estou dizendo que o ato de domingo foi partidário; estou dizendo que muitos políticos participando das manifestações produz esta impressão.
Todos nós sabemos que no mundo da luta político-partidária muitos dizem hoje o que outros diziam deles ontem, e vice-versa. Quando você vê políticos que nunca ergueram a voz contra a corrupção de repente começarem a fazê-lo, aí você sabe que está no terreno dessa luta. Também é difícil dar um Iso não-sei-quantos-mil de credibilidade a líderes que aparecem criticando “tudo que é corrupção”, e um desses líderes é ora um senador investigado pelo STF ali, ora um ex-governador cassado pelo TSE acolá, um outro senador formalmente acusado de receber propina ali e por aí vai.
Considere-se também o desgaste provocado por aquelas imagens de balbúrdia, confusão e adiamentos no Conselho de Ética na Câmara, onde se define o encaminhamento do processo de cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha – ele também um dos investigados na Operação Lava-Jato, e cujo afastamento já é solicitado até por antigos aliados.
Acrescente-se ainda a falta que faz um líder nacional de credibilidade capaz de encarnar a face do contraponto aos baixos índices de popularidade do governo – aquela liderança que ao se posicionar forma opiniões e inspira gestos.
E, por fim, o indisfarçável cansaço da população com o que lhe parece simples querelas políticas.
Vejam os senhores leitores que não estou questionando o mérito da reivindicação do protesto (o que exigiria um artigo específico só sobre isso, que pretendemos fazer posteriormente). Mas buscando explicações para a baixa participação verificada neste domingo.
Convém destacar 1) que a redução do número de participantes não significa aumento de apoio ao governo, da mesma forma que a rejeição ao governo Dilma Rousseff não significa na mesma proporção apoio ao impeachment dela. E 2) a crescente participação de políticos não é o único fator que explica a continuada redução de participantes (independentemente de qualquer outra coisa, é muito difícil manter uma massa de milhares de pessoas em estado de mobilização permanente). Mas não tenho dúvidas de que nesta explicação há uma constante: quanto mais políticos nos protestos, menos povo na rua.