Beatles

Mais adorados do que nunca, os Beatles chegam às redes sociais e em 48 horas são ouvidos por mais de 50 milhões de pessoas ao redor do mundo.

Luce Pereira (texto)
Silvino (arte)

Nem tudo tem explicação. Desista, por exemplo, de descobrir por que os quatro rapazes que faziam um som naquele pequeno bar daquela cidade do interior da Inglaterra levaram apenas oito anos para entrar e nunca mais sair do coração do planeta. Seria compreensível se apenas uma geração, a de 1960, ainda hoje falasse e ouvisse os Beatles com entusiasmo de juventude – porque, afinal, foi influenciada pelo estilo, letras de protesto e guitarras estridentes da banda -, mas como justificar a explosão, via redes sociais, quando à 0h01 do dia 24 os meninos de Liverpool desembarcaram com seus sucessos retumbantes no serviço de streaming? Para quem ainda não possui tanta intimidade assim com o mundo virtual, o termo significa “forma de transmissão de som e imagem através de uma rede qualquer de computadores, sem a necessidade de efetuar downloads do que se está vendo e/ou ouvindo”. Ou seja, a máquina repassa em tempo real ao usuário as informações que recebe.
Liberado para estas plataformas, o furacão Beatles sacudiu os internautas como cansou de fazer com plateias ao redor do mundo entre 1962 e 1970, quando se desfez. Apenas nas primeiras 48 horas de execução (via Spotify e Apple Music, por exemplo), mais de 50 milhões de canções do grupo foram ouvidas, com destaque para Come together (transmitida 1,8 milhão de vezes), Let it be e Hey Jude. Presentão de fim de ano, considerando-se, sobretudo, que sempre demorou demais até a obra ser liberada para novos serviços de música. Basta lembrar que, por causa de uma arrastada briga legal, o trabalho precisou esperar muito para chegar ao iTunes, fonte na qual internautas beatlemaníacos passaram a beber com vontade.
A avassaladora estreia da mais lendária banda de rock de todos os tempos no mundo virtual foi devidamente acompanhada pela Brandwatch, famosa ferramenta de monitoramento das mídias sociais, que observou mais de 87% das discussões online sobre o quarteto inglês com comentários para lá de elogiosos. Isto só poderia mesmo resultar em alegria difícil de ser esquecida por fãs de primeira hora, cansados de ver músicas de gosto duvidoso marcar terreno também nas redes sociais onde unanimidades são raras. Imagine que se apresentar como uma delas 36 anos depois de dissolvido o grupo, em um ambiente sem vocação nenhuma para olhar para trás, é no mínimo um atestado de glória.
Não por acaso, muita gente enche o peito para afirmar que sua geração viveu o privilégio de ter 18 anos quando os Beatles apareceram. Fácil entender: o quarteto de Liverpool compôs a trilha sonora de uma época marcada por muitos dos mais expressivos acontecimentos do século 20, ensinando a milhões de jovens que a palavra rebeldia pertencia a eles, sem a qual jamais conquistariam outra não menos importante chamada liberdade. Como esquecer?
Em 2016, o mundo vai se voltar para o The Cavern Club, em Liverpool, pois lá, há 60 anos, nascia uma lenda da música mundial, que, como se vê, segue sem se abalar com a passagem do tempo. Juntos, John, Paul, Ringo e George conseguiram o milagre de parecer contemporâneos na época das redes sociais tanto quanto no tempo em que atravessaram a Abbey Road para gravar seu último álbum, o 12º, de mesmo nome. Vivos, ao ver a música de gosto duvidoso que grassa nos meios de comunicação (reais e virtuais), a aturdir os ouvidos dos seus eternos fãs, diriam apenas let it be. Let it be.