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Com releituras de músicas como Asa branca, imortalizada na voz de Luiz Gonzaga, banda mais longeva do estado completa 45 anos em outubro.

Marcionila Teixeira (texto)

O Quinteto não nasceu Violado. Era início da década de 1970 e os cinco músicos acabavam de se apresentar em Fazenda Nova, distrito de Brejo da Madre de Deus, no Agreste pernambucano. Deixavam o palco quando escutaram de algumas crianças do público: “lá vem os violados!”. Assim, no comecinho da formação, Quinteto virou Quinteto Violado. Trata-se, segundo seus formadores, da banda mais longeva de Pernambuco, inspiradora de tantas outras. Em outubro deste ano, completa 45 anos. E o estilo free nordestino, como definiu Gilberto Gil, está longe de acabar. Os músicos planejam novo disco para 2016. Querem aproveitar a data marcante.
O próprio Gil somente explicou o que significa o tal free nordestino em 2015, durante encontro com Marcelo Melo, 69 anos, que faz voz, violão e viola na banda pernambucana. “Caetano perguntou para Gil qual era o nosso estilo e ele disse: free nordestino. Isso queria dizer que a gente tinha liberdade de trazer as nossas influências como músicos e agregar valor à música nordestina de forma diferenciada. Quando o Quinteto toca, todo mundo reconhece a diferença dos arranjos”, explica Marcelo, que completa 70 anos em fevereiro, “firme para continuar por muito tempo”, ressalta.
O Quinteto Violado chegou a ser considerado o divisor de águas na música nordestina. A releitura da música Asa branca, conhecida na voz de Luiz Gonzaga, inclusive, chegou a emocionar o Rei do Baião, que elegeu a versão a mais bonita já ouvida por ele. Além dos novos arranjos de músicas consagradas de Gonzagão, a banda também alcançou o sucesso com releituras da obra de Gil e de nomes como Zé Dantas, Jackson do Pandeiro, João do Vale e canções autorais.
Da mesma forma que Gonzagão apadrinhou o Quinteto, os violados ajudam a lançar outros artistas na cena musical até hoje. Elba Ramalho, que começou nos palcos com a banda pernambucana, disse que eles foram anjos na vida dela. “Tem também o talento jovem de Luci Alves, que se apresentou no The Voice e saiu no Galo com o Quinteto, tem Marina Elali e vários outros”, enumera Marcelo.
Da primeira formação, em 1971, somente Marcelo permanece. Em sua companhia estão “herdeiros” de Toinho Alves, amigo que se foi e fundador do Quinteto junto com ele. Toinho tocava contrabaixo e morreu de infarto fulminante em 2008. Acompanham Marcelo, o filho de Toinho, Dudu Alves (teclado e administração executiva), os sobrinhos de Toinho, Roberto Medeiros (voz e bateria) e Ciano Alves (violão e flauta), além de um antigo admirador da banda, Sandro Lins (contrabaixo).
Em um universo onde músicas são esquecidas instantaneamente, qual o segredo para uma banda regional durar mais de quatro décadas? Profissionalismo e foco, diz Marcelo. “O que falta a muitas bandas é empreendedorismo. É preciso avaliar o que vai fazer, ter planejamento estratégico para lidar com mecanismos de mercado. Dudu, por exemplo, cuida da parte administrativa. Fico mais com o institucional do grupo. Inclusive ele faz cursos na área”, ressalta.
Agora em janeiro, os músicos se reencontram para iniciar os ensaios do carnaval. Há oito anos, tocam em um trio no Galo da Madrugada, sempre levando um artista convidado. Atualmente, diz Marcelo, apresentam-se cerca de 50 vezes por ano, principalmente nos ciclos carnavalesco, junino e natalino.
Quando pergunto quantos prêmios e discos a banda possui, além de quantos embarques em turnês, Marcelo diz não saber de cabeça. Fala de alguns mais importantes para eles, como a Medalha do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura, e a indicação ao Grammy Latino, no ano passado.
O último deles, em novembro, foi entregue pelo Diario de Pernambuco, o prêmio Orgulho de Pernambuco, na categoria cultura e música. Em 190 anos de jornal, o Quinteto Violado já passou e ainda passa pelas suas páginas. “Fizemos sucesso sem sair de Pernambuco. Não precisamos nos mudar para procurar mercado. Criamos uma imagem nacional a partir de nosso estado. E o Diario acompanhou de perto a história do Quinteto”, lembra Marcelo Melo. Uma relação de amor com a cultura pernambucana sem data para acabar.