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Veranear com a família no litoral, ao contrário do que se pode pensar, é um hábito de pouco mais de um século no nosso estado. Até o começo dos anos 1920, a praia não estava na moda entre os pernambucanos. As férias eram passadas em locais como Poço da Panela, Ponte d’Uchoa e Monteiro, em casas e pontos com banhos públicos ao longo do Rio Capibaribe. Ir ao mar tinha muitas restrições. “Banho salgado” somente se tomava por ordem médica, e no horário restrito das 5h às 7h.

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O cronista pernambucano Antonio Maria publicou no Diario de 21 de novembro de 1961 um texto onde se recordava justamente destes momentos, quando a família inteira partia para Boa Viagem ainda no escuro, usando roupas de banho até o joelho, para mergulhar em grupo depois de fazer o “pelo sinal” e rezar uma “ave-maria”. E todos em jejum, para evitar uma congestão, envesgar ou ficar com a boa torta. O mar aberto causava medo.

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Antonio Maria cita este episódio como ocorrido em 1928, quando tinha sete anos de idade. Três anos antes, em outubro de 1925, a abertura da Avenida Boa Viagem facilitou o acesso de todos os recifenses  ao distante distrito de paz que abrigava, a partir da segunda metade do século 19, poucas casas em meio aos coqueirais.  Agora poderia-se chegar facilmente ao balneário, de carro ou de bonde da Tramways. Em poucas décadas, com a explosão da moda do banho de mar e os trajes de banhos cada vez mais curtos, morar na Zona Sul tornou-se símbolo de status.

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Antes, as famílias mais abastadas pernambucanas preferiam tomar o “banho salgado” em piscinas, em um ambiente longe do incômodo da areia. Inaugurado no final de 1880, o Grande Estabelecimento Balneário de Pernambuco foi um local onde, além dos banhos terapêuticos, podia-se comer bem, participar de chás dançantes e até pernoitar, vendo as luzes do Recife ao longe. À distância, vista da zona portuária, a construção de madeira parecia uma embarcação encalhada nos arrecifes. Para erguê-la, o empresário Carlos José de Medeiros precisou de uma autorização especial do governo. O empreendimento com dois terraços, um voltado para o Rio Capibaribe e outro para o oceano Atlântico, ficou conhecido popularmente como Casa de Banhos. Em 1924 foi totalmente destruído por um incêndio.

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O gosto do recifense pelos banhos terapêuticos já remontava de bem antes, mas distante da praia. Em 1858, o Diario já trazia um anúncio da abertura de uma casa no Pátio do Carmo, que funcionaria das 6h às 23h, “com banhos frios de água corrente da Companhia de Beberibe, ditos aromáticos, ditos de choque e chuviscos, banhos mornos simples e aromáticos, assim como banhos medicinais sulforosos e salgados, vindos de Paris. Chamamos a atenção dos senhores doutores em medicina para este estabelecimento, que poderá facilitar-lhes curas importantes. Há lugar reservado e separado para as famílias”, oferecia o texto publicado no dia 2 de julho.

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A praia venceu e, hoje, é um bom lugar para tudo. Até para ler jornal.

As fotos desta postagem foram retiradas da Revista da Cidade, publicação ilustrada mensal que circulou no Recife na década de 1920. Foi lançada em maio de 1926 pela editora Moraes, Rodrigues e Cia. Tinha como meta apresentar a vida social da capital pernambucana, com crônicas, poemas e curiosidades. As edições apresentadas abaixo são do ano de 1929.