20.01Ator nascido em Barreiros, homenageado com o Prêmio Orgulho de Pernambuco, é  atualmente um dos mais requisitados pelos cineastas do estado e do país.

Júlio Cavani (texto)
Alcione Ferreira (foto)

Irandhir Santos alcançou o difícil equilíbrio entre ser versátil e ao mesmo tempo ter um estilo próprio. Mesmo com personagens bem diversificados, ele tem conseguido construir uma obra que forma um conjunto coerente e demonstra compromisso com a originalidade autoral. O ator garante que uma boa transformação não esteja na lógica do disfarce, mas na essência da interpretação dramática pessoal. É um artista que remodela a própria imagem sem tornar-se irreconhecível.
O pernambucano, que nasceu em Barreiros, cresceu em Limoeiro e começou a trabalhar com teatro e cinema no Recife, sempre mergulha profundamente nas exigências de cada projeto e deixa-se envolver pelos diferentes contextos culturais dos filmes. Ainda que possua processos de preparação por vezes introspectivos, é um artista que tem consciência da natureza coletiva e colaborativa do processo de criação cinematográfico. Ele adapta-se aos diferentes contextos como quem capta o que eles têm de melhor.
A integração entre o trabalho do ator e a personalidade dos diretores pode ser sentida em alguns dos filmes. Em Permanência, Irandhir personifica o tom discreto do cineasta Leonardo Lacca ao interpretar um fotógrafo apaixonado. Em Febre do rato, na figura do poeta, é possível sentir a energia explosiva de Cláudio Assis. Em Obra, ele capta os formalismos de Gregorio Graziosi ao viver um arquiteto. Em Tropa de Elite 2, a objetividade discursiva e tensa de José Padilha está representada no contraditório político que construiu a carreira na luta pelos direitos humanos.
A forma de trabalhar de Irandhir tem gerado os melhores resultados, comprovados por elogios, premiações e, sobretudo, pelo efeito emocional provocado sobre as plateias. Nos festivais, a presença dele no elenco de um filme o coloca sempre entre os favoritos na categoria de melhor ator ou coadjuvante. Ele chegou a ser premiado três vezes, por exemplo, no Festival de Paulínia (por Olhos azuis, Febre do rato e A história da eternidade), além de ter vencido também em Gramado (Tatuagem) e Brasília (Baixio das bestas), entre outros reconhecimentos.
Mesmo quando não interpreta exatamente o protagonista, ele torna-se uma peça fundamental e conduz momentos impactantes, como pode ser percebido nos filmes O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho, Ausência, de Chico Teixeira, e A história da eternidade, de Camilo Cavalcante. Em Viajo porque preciso, volto porque te amo, dirigido por Marcelo Gomes e Karim Aïnouz, Irandhir provoca emoções sem nem aparecer na tela, pois participa do filme apenas com a voz, como um viajante do sertão contemporâneo que conduz a narrativa do início ao fim. Em Amigos de risco, de Daniel Bandeira, passa maior parte do filme desacordado, nos braços dos outros atores, em um verdadeiro teste de concentração.
Os poucos programas que fez na televisão são a constatação de uma busca por desafios. A novela Meu pedacinho de chão e as minisséries A pedra do reino e Amores roubados estão entre os mais ousados produtos televisivos lançados nos últimos anos. São exemplos de como a TV brasileira pode reservar algum espaço para a experimentação de linguagem no âmbito da comunicação de massa. Participar deles como ator, portanto, é afirmar um posicionamento. Seja na Rede Globo ou nos vídeos do movimento Ocupe Estelita, Irandhir Santos assume, portanto, que tem responsabilidade na elaboração de discursos transformadores.
O talento de Irandhir Santos tem tudo para ser reafirmado em 2016. Em Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, ele interpreta um salva-vidas da praia de Boa Viagem e contracena com Sônia Braga. Com Murilo Benício, participa do primeiro longa da cineasta Gabriela Amaral Almeida, O animal cordial. O ator está ainda em Redemoinho, primeiro filme de José Luiz Villamarim, diretor de Amores roubados e O rebu, além de participar do elenco de Velho Chico, sua primeira novela no horário das 21h na Globo, sob direção de Luiz Fernando Carvalho.

* Júlio Cavani é repórter do Diario de Pernambuco e dirigiu Irandhir Santos no curta-metragem Deixem Diana em paz.