Por Silvia Bessa
Foram 5,2 mil quilômetros percorridos até o encontro com famílias que há muito pouco tempo tiveram a notícia de que seus sonhos deram uma guinada e seus filhos teriam destinos diferentes daqueles projetados. Como entrevistados, sabia-se que estariam pais combalidos como vítimas de um fenômeno inexistente na literatura médica. A reportagem esteve determinada a mostrar além das mães entrevistadas nos postos de saúde de referência nas capitais nordestinas. Conseguiu, mas o caminho foi pedregoso e, por vezes, triste. Pela natureza do assunto e pelos espelhos dos olhos de pais e avós. Neles, viam-se a incerteza e o medo do desconhecido. Os relatos atestam a força dos encontros e estampam as 10 páginas do projeto.
Para produzir o caderno especial “Zika – Uma ameaça mundial”, encontrado na versão impressa do Diario de Pernambuco desta segunda-feira (29/02/16), as repórteres Silvia Bessa e Alice de Souza buscaram amparo técnico para traçar o longo roteiro. Concentraram esforços nos estados e nas áreas destacadas nos primeiros relatórios oficiais do Ministério da Saúde – Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte – todos localizados na região Nordeste. Os números começaram a saltar aos olhos em outubro e já naquela época a cobertura diária foi intensificada. Uma produção jornalística densa, com maior profundidade e que reunisse todos os dados em uma só publicação, no entanto, se fazia necessária.
As estatísticas dos governos estaduais sobre os municípios com mais casos de microcefalia, o sequenciamento do Levantamento Rápido do Índice de Infestação da Dengue (LIRAa) e a população habitante em cada uma das das cidades citadas nortearam todo o trajeto dessa longa viagem. O estado de São Paulo foi incluído porque não se fala de futuro do zika sem se passar pelo estado mais populoso da nação. Os especialistas ouvidos (foram 25 dos mais respeitados do Brasil) reforçaram essa preocupação.
A reportagem contou com imagens fortes dos fotógrafos Paulo Paiva e Rafael Martins e de projeto gráfico diferenciado da designer Jaíne Cintra. É um ponto de partida jornalístico. Ou se propõe o primeiro rascunho sobre um vírus que intriga cientistas e deve mudar centenas de histórias brasileiras. Procurou dar ouvidos e voz às dezenas de famílias que se encontram no anonimato e pretende colaborar com a ampliação de um debate importante e necessário sobre a tragédia que abate sobretudo Pernambuco e o Nordeste – mas atinge o Brasil, a América Latina e o mundo inteiro. Ainda há muito o que se escrever, por certo.
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