Maria Graham, Charles Darwin, Rudyard Kipling, Albert Camus e Simone de Beauvoir. Cinco estrangeiros que um dia chegaram a Pernambuco e exploraram Recife e Olinda. Deixaram seus relatos em diários depois transformados em livros. O olhar do viajante permite uma nova compreensão do lugar em que vivemos, mesmo com a passagem dos séculos.
Na comemoração dos 479 anos da fundação do Recife e dos 481 anos de Olinda, o Diario de Pernambuco resgata estas histórias em forma de quadrinhos. Até 12 de março, data oficial dos festejos, a cada dia um ilustrador da editoria de arte do jornal vai apresentar a sua tradução gráfica das impressões dos britânicos e franceses famosos. O primeiro foi Jarbas, que nesta terça-feira, em uma página dupla dentro do caderno Viver, destacou o horror da escravidão testemunhado pela inglesa Maria Graham, em setembro de 1821.
Os cinco viajantes foram escolhidos pelo editor executivo Paulo Goethe pelo simples critério de terem registrado no papel as suas impressões sobre as duas cidades. Outros visitantes famosos, como o cineasta norte-americano Orson Welles, em 1942, não deixaram relatos em primeira pessoa. O cineasta e escritor italiano Pier Paolo Pasolini escreveu, em março de 1970, um poema onde cita o aeroporto do Recife. Dos “eleitos”, apenas Maria Graham esteve em Pernambuco antes da fundação do Diario, que circulou pela primeira vez em 7 de novembro de 1825.
O segundo “episódio” da série “Recife e Olinda dos Viajantes” será publicado no jornal na quarta-feira. Coube a Samuca desenhar a HQ sobre a vinda do naturalista Charles Darwin em agosto de 1836. O britânico, aliás, detestou Pernambuco, terra de escravos e de gente mal-educada, segundo ele.
Na sequência cronológica, na quinta-feira Laerte Silvino recria o relato do Prêmio Nobel de Literatura (1907) Rudyard Kipling. O escritor inglês de origem indiana embarcou em 1927 para uma viagem de cinco semanas ao Brasil. Ele não chegou a desembarcar em Pernambuco em fevereiro daquele ano, mas descreve, como poeta que foi, suas primeiras impressões deste novo país a partir do Porto do Recife.
Na sexta-feira, Flávio Valdevino descreve em imagens a passagem de dois dias do também Nobel de Literatura (1957) Albert Camus por Pernambuco em julho de 1949. O escritor e filósofo nascido na Argélia, mas cidadão francês, conheceu até um bumba-meu-boi.
Encerrando a série, no dia oficial da festa de Recife e de Olinda, Greg ficou incumbido de ilustrar o relato de Simone de Beauvoir, que em agosto de 1960 desembarcou ao lado do marido, o também escritor Jean Paul Sartre. Em seu livro “A força das coisas”, ela narra suas impressões sobre um Recife que sonhava ser modernista.
Com o objetivo de ser também didático, o projeto contou com a colaboração de Sandro Vasconcelos, gerente do Serviço de Pesquisa e Iconografia do Museu da Cidade do Recife, que disponibilizou imagens sobre as duas cidades e o figurino usado em cada época. Este material ajudou os ilustradores a serem fiéis no sentido histórico, mas mantendo o estilo e a técnica individuais.
Unir diários de viagens com história em quadrinhos. Só um jornal com 190 anos de existência tem. Parabéns, Recife e Olinda. Os leitores, também.