A censura a espetáculos, assunto que voltou à moda com o episódio do fim de semana envolvendo um musical em Belo Horizonte, que usava criações de Chico Buarque, vem de longe e se confunde com a história do nosso teatro. Em Pernambuco, há 190 anos, um bispo diocesano chegou a solicitar ao presidente da província, Francisco de Paula Cavalcanti, o fechamento do Teatro São Francisco, chamado pejorativamente de “Teatro Capoeira” por causa das pessoas que o frequentavam.
Em 1826, o religioso estava incomodado com a encenação de peças chulas e imorais, sendo contra a “licenciosidade e escândalo com que se representam ali muitas da histórias”. Indicado para investigar o caso, o juiz Luís do Nascimento Crespo disse não às pretensões do bispo: “não sou de opinião que se feche o teatro, porque isso redundará afinal em grandes prejuízos para a cultura”. Ele opinou apenas que se chamasse a atenção dos responsáveis pelas encenações.
Esta pequena história de defesa da liberdade de expressão teatral foi contada no Diario de Pernambuco do dia 4 de maio de 1969. Assinada por Flávio Guerra, a reportagem apresentava o panorama artístico em cena no Recife antes da inauguração do Teatro de Santa Isabel, em maio de 1850, durante o governo do futuro conde da Boa Vista.
O Teatro São Francisco, na verdade, funcionava no lugar onde antes existia a famosa Casa da Ópera, a primeira casa oficial de espetáculos teatrais do Recife, construída em 1772, no tempo do governador Manuel da Cunha Meneses. O prédio original era ficava localizado na Rua da Cadeia Nova, hoje Rua do Imperador.
Praticamente dez anos antes do Santa Isabel, a melhor casa de espetáculos da capital recifense era o Teatro Apolo, levantado em 1841 na antiga Rua Visconde de Itaparica, hoje Rua do Apolo por causa justamente da sua importância cultural. Era administrado por altos comerciantes e figuras importantes da nossa cidade, que haviam fundado a Sociedade Harmonia Teatral.
Antes dos teatros, as peças eram apresentadas em igrejas ou casas particulares. No Brasil Colônia, recomendava-se que os locais fossem bem regulados, “pois deles resultam a todos as noções de grande esplendor e inteligência, visto serem a escola onde os povos aprendem as máximas sãs da política, da moral e do zelo da fidelidade”.