No princípio, era apenas uma encenação entre amigos, no início da década de 1950, nas empoeiradas ruas da vila de Fazenda Nova, em Brejo da Madre de Deus, no Agreste Pernambucano. Em 1956, surgiu a ideia de construir uma réplica de Jerusalém, nos moldes do que os alemães da cidade de Oberammergau, na Baviera, já haviam feito, atraindo turistas de toda a Europa. A cidade-teatro com 100 mil metros quadrados só foi aberta ao público em 1968, já com o pomposo título de maior teatro ao ar livre do mundo.
Ao longo de quase 50 anos de espetáculos, o Diario de Pernambuco acompanhou o crescimento de Nova Jerusalém. Neste período, 13 atores receberam a missão de interpretar Jesus Cristo para plateias que chegavam a mais de 50 mil pessoas por noite. O primeiro, Carlos Reis, atuou de 1968 a 1977, quando deu lugar a José Pimentel, que segurou a cruz de 1978 a 1996. A partir de Fábio Assunção, em 1997, atores globais assumiram o papel, uma estratégia de atrair mais público para manter uma estrutura que envolve quase mil profissionais, entre atores, técnicos e assistentes.
Em 1972, os enviados especiais do Diario de Pernambuco já relatavam que Fazenda Nova havia mudado, apenas quatro anos depois do início do espetáculo, na época com até cinco horas de duração: “Barracas, restaurantes improvisados, vendedores de antiguidades, hippies, freiras, rapazes de calção, roda gigante, chuva caindo insistentemente e a rua principal cheia de lama. Os moradores de Fazenda Nova estão acostumados com esta invasão. Muitos deles, que ajudaram a construir Nova Jerusalém e em outros tempos trabalharam na peça sacra, não poderão assistir, este ano, o Drama da Paixão, porque consideram o preço do ingresso muito caro: 20 cruzeiros”, informava o texto publicado no dia 31 de março daquele ano. Era a inevitável profissionalização.
Os pernambucanos Marcelo Valente (2000 a 2002) e José Barbosa (2012 a 2014) foram os intrusos nesta dinastia global. Vale ressaltar que os dois primeiros Cristos de Fazenda Nova continuam na ativa. Carlos Reis retorna a Nova Jerusalém, desta vez como diretor artístico. Já Pimentel permanece fazendo o papel de Cristo, aos 80 anos de idade, na Paixão que comanda no Centro do Recife.
OS CRISTOS DE FAZENDA NOVA
Carlos Reis (1968 a 1977)
José Pimentel (1978 a 1996)
Fábio Assunção (1997 e 1998)
Herson Capri (1999)
Marcelo Valente (2000, 2001 e 2002)
Luciano Szafir (2003 e 2006)
Vladimir Brichta (2004)
Eriberto Leão (2005 e 2010)
Carmo Dalla Vecchia (2007)
Thiago Lacerda (2008 e 2011)
Murilo Rosa (2009)
José Barbosa (2012 a 2014)
Igor Rickli (2015 e 2016)