Na Semana Santa nordestina da primeira metade do século 20, o seguidor da religião católica tinha que se abster de carne e consumir pescados, principalmente na sexta-feira da Paixão. Uma opção diferente para os recifenses vinha em frascos procedentes de Alagoas. Era a conserva de sururu (ainda com acento), produzida pela empresa A Mercantil Ltda, de Maceió, que inclusive exportava a iguaria, tratada no rótulo como produto finíssimo, de “agradável gosto e excelentes qualidades nutritivas”.
Consumido desde o tempo do Brasil Colônia como fonte barata de proteína, servindo inclusive como alimento dos escravos, o sururu foi considerado em dezembro de 2012 um Bem Cultural de Natureza Imaterial de Alagoas. A história que aqui contaremos é a de uma empreitada comercial que levava um sabor nordestino para o mundo.
O registro da marca do Mytella guyanensis em conserva pela A Mercantil Ltda foi obtido em abril de 1930. Pouco menos de um ano antes, no entanto, o produto era anunciado com destaque no Recife na Revista da Cidade. A propaganda que ilustra este post foi retirada da publicação semanal recifense de 31 de agosto de 1929.
Não foi encontrada informação, na internet, de quando a conserva de sururu saiu do mercado. Existe apenas um elogio ao produto feito por Apparicio Torelly, o jornalista-humorista fundador do A Manha (sem acento mesmo) que se autointitulou Barão de Itararé. Na edição de 16 de janeiro de 1930 há o destaque de que o alimento foi degustado graças à oferta do representante comercial no Rio de Janeiro. Como dizia o texto, “quem comer sururu uma vez, faz sururu para comer sempre sururu”.