Bodião (Halichoeres poeyi) é um peixe alongado e esguio, com ocorrência no Nordeste brasileiro, assim dizem os dicionários. Mas estes livros de consulta do nosso vernáculo também dão um novo significado a esta palavra, pelo menos para Pernambuco. Para o Aurélio, é a denominação de “um tipo popularíssimo das ruas do Recife da 2ª metade do século 19”. Para o Houaiss, é “orador ou escrevinhador asneirento, mas presumido, inconsciente do papel que faz”.
Francisco Duarte da Silva, cujo apelido era Bodião de Escama, era uma espécie de “Rolando Lero” recifense da segunda metade do século 19. Ao mesmo tempo extravagante e inconveniente, vivia circulando pelos cafés em busca de intelectuais e estudantes de direito que pudesse dar uma “facada” financeira.
No dia 21 de novembro de 1971, na sua coluna Feira publicada aos domingos no Diario de Pernambuco, Adilson Cardoso resgatou o curioso personagem autor de frases como esta: “O Sol é um botão de ouro pregado na casaca azul do firmamento”. Para conquistar as donzelas, ele dizia ser doutor em letras e poesias. Ao seu modo ganhou a fama.
Em 10 de abril de 1874, anúncio no Diario destacava uma peça teatral escrita por um autor local, de nome Penante, onde havia um personagem descrito como “imitador do Bodião”. No dia 8 de junho de 1880, Bodião voltava a ter o seu nome impresso no jornal, desta vez numa lista de candidatos a vereador.
Em 1 de fevereiro de 1969, Mauro Motta colocou Bodião numa relação de apelidos curiosos recifenses, ao lado de Cabugá, Chico Macaco, Bico-Doce, Curió sem rabo e Frasquinho de Veneno.
O mais curioso é que Bodião acabou se tornando uma marca de cigarros, com direito a foto e homenagem ao corpo acadêmico. A Tabacaria Havaneza era sediada na Rua Duque de Caixas, perto da Praça da Independência, ou melhor, a eterna pracinha do Diario.
Em 17 de julho de 1983, o mesmo Mauro Motta relacionou em uma crônica na página de Opinião do Diario o nome de Bodião entre as “personalidades” que haviam se transformado em maços de cigarro. Uma história de Pernambuco que, literalmente, virou fumaça.