O cidadão pernambucano – ou turista incauto – que passa diariamente pela Praça do Derby nem imagina que aquele logradouro que abriga um movimentado terminal de ônibus foi pensado para ser o “o ponto mais pitoresco do Recife”. A imagem publicada na capa da Revista de Pernambuco, em março de 1925, já apresentava a proposta de urbanização batizada como “Recife Novo”: um espaço público de influência europeia com ruas arborizadas e grandes áreas abertas – até com direito a um laguinho – para lazer das famílias.
O Derby como parque começou a ganhar forma há praticamente 90 anos atrás. Antes o lugar era conhecido como Campina do Derby, uma grande área alagada. Em abril de 1925, 300 operários começaram os trabalhos de dragagem e aterro, com a utilização de dois compressores e uma draga. Em dois meses foi coberta uma área de 9.500 metros quadrados, com movimentação de 20 mil metros cúbicos de terra.
Era o início da modelação do parque que fazia parte da urbanização recifense de acordo com os princípios sanitários ditados pelo engenheiro Saturnino de Brito entre 1909 e 1915, também responsável pela mudança drástica na região portuária do Rio de Janeiro.
O antigo mercado Coelho Cintra, de propriedade de Delmiro Gouveia, incendiado em 1901, seria transformado no Comando Geral da Força Pública do Estado. Construído no estilo renascença, o atual quartel da Polícia Militar de Pernambuco ocuparia uma área de 2 mil metros quadrados. A sede anterior, na Praça da República, daria lugar ao palácio do Tribunal de Justiça, erguido na mesma época.
O embelezamento – após o devido saneamento – do Recife estava em curso. O Derby seria um parque-jardim, entre as águas do Rio Capibaribe e o canal que depois seria margeado pela Avenida Agamenon Magalhães. Era uma retomada, em outros termos, do espaço recreativo administrado pelo industrial e visionário cearense Delmiro Gouveia, que ali instalou, além do mercado, o Hotel Internacional, um velódromo, um cassino e um parque de diversões.
Dez anos depois, o Derby já passaria por uma remodelação paisagística que ficou a cargo de Roberto Burle Marx. Em 1937, ele acrescentou vegetação encomendada do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e inseriu o espaço conhecido como “Ilha dos Amores”.
Ao longo das décadas, o parque virou praça, mas o Derby permaneceu sendo cartão-postal e ponto de lazer para as famílias locais, com música executada ao vivo no seu coreto e exposições em sua área aberta. O local abrigou, em tanques, peixe-bois – o mais conhecido foi a Xica, cuja história já foi contada no blog.
Noventa anos depois, o Derby pode não ser mais o ponto mais pitoresco do Recife. Mas que tem muita história para contar, ninguém pode negar…
Muito boa reportagem, adorei.