Quem exerce o poder máximo de um país não deve incorrer em erros. Caso contrário, pode enfrentar as consequências. Mas há os que conseguem passar pela história com a imagem impoluta. Foi assim com o imperador Pedro II, deposto em 1889, mas considerado um homem íntegro e patrocinador da ciência e das artes. Como político, no entanto, sabia cometer os seus “pecadilhos”. A um grande amigo pernambucano, confessou em um bilhete que “mentia conforme sentia necessidade”. A revelação curiosa faz parte dos documentos reunidos por João Alfredo Corrêa de Oliveira, conhecido como Conselheiro João Alfredo, que como presidente do conselho de ministros do império incluiu no programa de governo em 1888 a abolição da escravatura no Brasil. O que se consumaria logo depois, com a assinatura da Lei Áurea no dia 13 de maio.
Primeiro diretor da Faculdade de Direito do Recife, o Conselheiro João Alfredo gozava da amizade de dom Pedro II. Tanto que preservou com ele uma cópia da Fala do Trono que o imperador fez no dia 20 de novembro de 1888 – aliás, a última que faria – marcando a abertura dos trabalhos do Parlamento. De próprio punho, Pedro II fez as emendas da revisão, inclusive da própria redação do texto, preocupando inclusive com os tempos verbais e pronomes. Em anexo, ele incluiu o papelzinho onde confessava que “mentia conforme a necessidade”.
O tesouro documental de João Alfredo foi doado à Universidade Federal de Pernambuco em 1970. No dia 16 de agosto daquele ano, o Diario de Pernambuco registrava que as duas mil peças do acervo do conselheiro constituíam “o mais completo e valioso arquivo da história do Império Brasileiro”. A reportagem era assinada por Manoel Teixeira Neto, com fotos de Diógenes Montenegro. Nestes tempos em que a política está em evidência, é importante conhecer como homens públicos de outros tempos se comportavam. Quando o bem mais valioso era um papel. E não moeda.