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A primeira vez foi no dia 3 de setembro de 1961, um domingo. Na coluna Discos, assinada por Oscar Tosta da Silva, um parágrafo inteiro destacando a estreia de um novo cantor, descoberto por Carlos Imperial: Roberto Carlos, com a música “Louco por você”. “Tem a seu mérito ser o intérprete de ‘Olhando estrelas’, grande sucesso do momento, em sua primeira gravação em português”.

O segundo registro do capixaba no Diario de Pernambuco ocorreu nove meses depois, em 20 de maio de 1962. O futuro ídolo da Jovem Guarda faria o primeiro show em Pernambuco, como atração de uma festa que o Náutico realizou em homenagem aos jogadores de basquete campeões juvenis da temporada. Era apresentado como “o cantor da TV Rio e da Rádio Mayrink Veiga”.

Nestes últimos 55 anos, Roberto Carlos frequentou as páginas do jornal mais antigo da América Latina muitas vezes. Uma relação que se intensificou com o tempo, na escalada de sucesso do artista de Cachoeiro do Itapemirim que ganhou o Brasil com seus cabelos longos e um repertório de rebelde comportado permitido pela ditadura militar.

A primeira foto de Roberto Carlos no Diario foi publicada no dia 8 de fevereiro de 1966. Na verdade, tratava-se da publicidade de um show no ginásio do Sesc, promovido pelas Lojas Louvre com o apoio do próprio jornal. O criador de “Calhambeque” e “Que tudo vá para o inferno” posava num banquinho com o violão, ainda de cabelos curtos. Vanderleia, Erasmo Carlos e The Jet Blacks completavam o time dos “ídolos da juventude”.

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A consagração de Roberto Carlos como ídolo em Pernambuco se deu três meses depois. Em 24 de junho de 1966, já comandando a Jovem Guarda, ele desembarcou pela sexta vez no estado para dois shows em uma mesma noite. No Sesc, cantou para três mil pessoas. Depois seguiu para o Clube Internacional, onde se apresentou para mais dez mil fãs. Vestindo calça preta e camisa vermelha, cantou 12 músicas. Do cachê de nove milhões de cruzeiros, abriu mão de três milhões para ajudar as vítimas da enchente que havia atingido duramente a cidade.

O relato do show de São João foi contado no Suplemento Social do Diario de 3 de julho de 1966. O cantor era considerado “um pão” pelas jovens pernambucanas e seu gesto de abrir mão de parte do cachê mereceu elogios até dos mais tradicionalistas, que torciam o nariz para o tal do “iê-iê-iê”.

No mesmo Suplemento Social, mas na edição de 29 de maio de 1966, a colunista Rosa Maria Guerrera mostrava que o Rei não era unanimidade. Ela criticava o fanatismo em torno do cantor, com garotas desmaiando ao ver uma foto de Roberto Carlos.

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No dia 21 de dezembro de 1969, o Diario de Pernambuco publicava uma reportagem de página inteira tentando antecipar os próximos passos de Roberto Carlos, o ídolo da Jovem Guarda. O texto, assinado por Samir Abou Hana, que do impresso migrou para a rádio e TV, distribuindo ternurinhas até os dias de hoje, afirmava que o Rei pensava em deixar o “iê-iê-iê” de lado.

Seus fãs haviam envelhecido com ele e romantismo em tempos de repressão política tinha mercado fácil. Quarenta e cinco anos depois, Roberto Carlos e Samir Abou Hana continuam na ativa, cada um com seu reinado, unidos na história pelo Diario.

Na edição do dia 31 de março de 1972, o jornal contava uma nova aventura do Rei em Pernambuco. Acompanhado de uma caravana artística integrada ainda pelo seu amigo Erasmo Carlos, o apresentador Carlos Imperial, o estilista Denner e atriz Maritza Cavalcanti, ele prestigiou o espetáculo de Nova Jerusalém. Preferiu não assumir nenhum personagem, ficando na plateia.

Protagonista de tantas histórias curiosas, é uma pena que, no presente, no auge dos seus 75 anos de vida, completados nesta terça-feira, 19 de abril, Roberto Carlos queira controlar sua própria biografia. Mas o que está registrado, ficará. Como o Diario.