21.04

Casa localizada no bairro das Graças, na Zona Norte, tem ainda mais de dez árvores na área externa.

Wagner Oliveira (texto e foto)

Uma casa do século passado, localizada no bairro das Graças, na Zona Norte do Recife, serve de pulmão para os prédios vizinhos que a cercam. Ao redor do imóvel onde vivem o restaurador José dos Santos, 86 anos, e a professora Nadja Pena, 73, existem mais de dez árvores que são responsáveis pela sombra convidativa do local. A paixão pelo verde é tanta que o casal tem um coqueiro no meio da sala. O ambiente é tão aconchegante que as visitas não têm vontade de ir embora. As frutas são diversas. Entre as árvores estão quatro mangueiras, duas cajazeiras, três oitizeiros, um jambeiro, um cajueiro, dois coqueiros e até um exemplar de pau-brasil. Mas nenhuma delas chama tanto a atenção quanto o pé de coco do meio da sala. Os donos dizem que ele resiste há décadas e ainda dá frutos.
“As pessoas que chegam aqui ficam apaixonadas e até pedem para tirar fotos com esse coqueiro. Tem gente que não quer nem ir embora, acha o ambiente acolhedor”, revela Nadja. Segundo José, o coqueiro da sua sala tem mais de 60 anos. “Estou aqui há 45 anos e quando chegamos o coqueiro já estava. Na reforma da casa, fizemos essa sala e o deixamos no meio”, conta o dono do imóvel, conhecido como Zé Santeiro. “Os vizinhos gostam das árvores daqui porque fazem sombras na casa deles. Uma vez disse a um senhor que iria vender a casa para ser feito um edifício no lugar e ele pediu que eu não fizesse isso. Mas era brincadeira. Não vendo minha casa por dinheiro nenhum”, reforça o restaurador. Bom para os vizinhos, melhor ainda para a cidade que cada dia tem menos árvores nas ruas.
Entre os benefícios de ter árvores por perto estão a produção de oxigênio, que é vital para a nossa sobrevivência, a filtragem da poluição do ar, absorção de até 70% da água da chuva, reduzindo o risco de enchentes, aumento da umidade do ar, garantia de sombra e abrigo para os passarinhos, além da redução da temperatura, deixando os ambientes mais frescos. O arquiteto André Carício diz que a presença de árvores em casas e também em estabelecimentos comerciais valoriza o ambiente. “Estamos perdendo nosso espaço verde com algumas construções. Quem mantém árvores nos imóveis está preservando a natureza e o verde. E como nosso clima é muito quente, as árvores ajudam a esfriar um pouco. Isso também é uma forma de resgate do passado, da infância. Muita gente tinha árvores em casa e gostava de brincar nelas”, ponderou Carício.
Para o professor de ecologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Felipe Melo, ter árvores em ambientes fechados traz algumas vantagens mas também exige cuidados. Um exemplo é a questão da estética e da iluminação. O tronco da árvore serve como parte da decoração do ambiente que também ganha luz especial devido à abertura existente no teto para o crescimento da árvore. “Outro ponto positivo é a visita de largatixas, que ajudam a comer os insetos que estiveram no local. No entanto, alguns cuidados são fundamentais com essas árvores. Não se pode deixar acumular folhas, frutos e água no telhado”, ressaltou Melo.
Há três anos escrevi reportagem aqui no Diario de Pernambuco onde contei da paixão do mestre de obras Iranildo Francisco Seabra pelas árvores. Ele gostava tanto delas que construiu uma casa sobre um pé de flamboyant. Depois de ter sido atacada por cupins, a árvore não tem mais vida. Os galhos e as flores já não enfeitam o terraço da casa construída por Iranildo, mas o tronco que resiste firme serviu de sustento para a realização de um sonho antigo do proprietário do imóvel. A casa da árvore, admirada por crianças e curiosos, chama a atenção de quem passa pela rua tranquila no bairro da Iputinga, na Zona Oeste.
O desejo de oferecer um espaço para os filhos brincarem ficou adormecido por anos e saiu da imaginação do mestre de obras no ano de 2011. O imóvel levou dois meses para ficar pronto e custou cerca de R$ 6 mil. O espaço de quatro metros por quatro de largura tem ainda um quarto com cama de solteiro e uma cômoda, um banheiro com chuveiro e uma cadeira de balanço. Nessa cadeira, Iranildo costumava descansar e ouvir rádio. Passava a maior parte do dia na sua casa da árvore. Hoje a casa está vazia. Iranildo morreu em junho do ano passado.