28.04

Situação política está tão instável que mudanças inesperadas nunca podem ser completamente descartadas.

Vandeck Santiago (texto)
Marcelo Camargo/Agência Brasil (foto)

Um grupo de sete senadores começou a movimentar-se em prol da convocação de novas eleições para outubro deste ano. Ontem eles tomaram café da manhã com Lula (PT) e à tarde encontraram-se com Marina Silva (Rede) e Aécio Neves (PSDB). Os senadores são de cinco partidos: Lídice da Mata (BA) e João Capiberibe (AP), ambos do PSB; Otto Alencar (PSD-BA); Wellington Fagundes (PR-MT); Randolfe Rodrigues (Rede – AP) e os petistas Jorge Viana (AC) e Paulo Paim (RS).
O grupo defende a renúncia da presidente Dilma Rousseff e o envio ao Congresso de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) convocando as eleições. A proposta surgiu já durante o período que precedeu a votação do impeachment na Câmara dos Deputados, defendida nos bastidores por petistas e governistas. Retorna agora, diante da previsão de que o processo de impeachment deve ser aprovado na primeira votação do Senado, após o que a presidente será afastada por um período de 180 dias, e o vice Michel Temer assume interinamente. Depois desse período acontece a votação final, quando serão necessários dois terços dos votos do Senado para o afastamento definitivo da presidente.
A realização de novas eleições, ainda este ano, é vista por algumas forças como mais eficaz no sentido de pacificar o país. Elas seriam convocadas sem necessidade de emenda constitucional se a presidente e o vice fossem afastados, o que poderia acontecer por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que investiga a campanha de Dilma e Temer. Sem esta decisão do TSE, novas eleições só seriam possíveis por meio de alteração da Constituição.
A tese ainda é, por enquanto, mera hipótese. O fato concreto que se tem pela frente é a iminência de Dilma ser afastada e Temer assumir, iniciando um governo do PMDB com partidos que hoje são oposição, PSDB e DEM. Mas em meio a tudo isso há um fator adormecido que os peemedebistas temem que possa despertar, segundo informou ontem a colunista Monica Bergamo, da Folha de S. Paulo: a evolução da tese de “Diretas Já” entre a população.
Por isso, a movimentação iniciada ontem por sete senadores merece atenção. De Lula, segundo o noticiário, eles não obtiveram a pronta adesão – mas o inusitado aí é que tivesse acontecido o contrário, uma vez que o governo ainda tem pela frente uma votação em poucos dias no Senado. O ex-presidente disse que iria levar o pleito do grupo à presidente Dilma.
“Ele não disse nem que sim nem que não à nossa proposta. Mas fomos lá para pedir o apoio dele, não para ouvir o discurso do PT de que é golpe”, afirmou o senador João Capiberibe. Do encontro com Marina, segundo relato dos próprios senadores, eles saíram com a impressão de que ela prefere esperar por uma decisão do TSE. Na última pesquisa Datafolha, de 9 de abril, Lula e Marina Silva aparecem tecnicamente empatados em três das quatro simulações realizadas pelo instituto.
Ontem, segundo apuração do Estado de S. Paulo, Dilma teria dado sinais de que “está disposta a enviar ao Congresso uma proposta de antecipação das eleições para encurtar o próprio mandato”. O que estaria em discussão entre os governistas é qual seria o melhor momento para tomar a iniciativa. “Só não queremos levantar essa bandeira, neste momento, porque o foco, agora, deve ser a luta para barrar o impeachment no Senado”, afirmou o deputado Wadih Damous (PT-RJ), ex-presidente da seção fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Diz ainda o texto que dois ministros informaram ao jornal que a presidente está “propensa” a aceitar a ideia de antecipação das eleições presidenciais, coincidindo com as eleições para prefeito. Hoje a proposta é rejeitada pela CUT e pelo Movimentos dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), cujos militantes estão engajados na mobilização contra o “impeachment golpista”.
Talvez a proposta da antecipação das eleições presidenciais e da renúncia de Dilma nunca venha a ser concretizada. Mas o atual quadro político do país está tão instável que mudanças inesperadas nunca podem ser completamente descartadas.