Em Foco 07.05

Nos últimos dias jovens ocuparam prédios estudantis em São Paulo (foto), Rio e Ceará. Em São Paulo ocuparam também a Assembleia Legislativa, onde ficaram durante três dias. Os ocupantes são alunos secundaristas; no caso da Assembleia paulista, a maioria era também de secundaristas. Será que estamos vendo o surgimento de uma tendência nacional ou são casos isolados?…
Antes de nos estendermos sobre esta questão específica, vamos ver a situação sob um panorama mais amplo.
Em toda esta crise que o Brasil está vivendo há mais de um ano, com manifestações pró e contra, protestos de rua e conflitos diversos, uma ausência chama a atenção: exatamente a deles, dos jovens. Eles não estavam em grande número nem nos protestos contra a presidente Dilma Rousseff nem nas manifestações a favor dela. Nesses atos, a participação predominante sempre foi de pessoas de mais idade, muitas vezes em família (com filhos pequenos). Se tomarmos São Paulo como referência (cidade que teve os maiores atos), a idade média dos participantes foi de 40 anos, segundo pesquisa do Datafolha. No maior deles – o de 13 de março, contra Dilma -, a presença de jovens entre 12 e 20 anos foi de apenas 4%, conforme o mesmo instituto. O dado curioso é que eles, os jovens, estiveram em peso nas chamadas Jornadas de Junho de 2013, e foram até os ‘puxadores’ dos atos públicos daquele ano.
Em 2013 a explicação mais comum era a da “representação” – as pessoas diziam não se sentir representadas pelas autoridades que supostamente as representariam. E demonstravam uma ostensiva antipatia contra partidos e entidades de classe. Depois disso tivemos a eleição, o primeiro ano do governo – e o país entrou numa crise política que deve resultar no afastamento da presidente e que não tem perspectiva de acabar tão cedo.
Pois bem, apesar de estarmos há 16 meses vivendo sob a maior crise política das duas últimas décadas, com um crescente acirramento ideológico e político, não se viu nos atos de rua o engajamento em grande número dos jovens. Claro, há lideranças jovens no processo, tanto à esquerda quanto à direita, mas a juventude em massa não está lá. A primeira hipótese que surge é que eles não se sentem representados pelas forças que estão em conflito, nem por suas lideranças – muitas delas representativas de costumes e práticas antigas, com discursos e atos destituídos de credibilidade para essa parcela da população, sem conseguirem inspirar confiança de que vão garantir um futuro melhor para todos. E, como parte de tudo, uma autofágica polarização política em que os seus protagonistas acabam se igualando nos defeitos.
As Jornadas de Junho de 2013 clamaram por uma agenda diferenciada. Ao meu ver, um dos componentes do clima antipartido da época devia-se também ao sentimento de que não se pode reduzir todas as demandas a uma briga do partido A contra o partido B.
Não se pode ver a ausência dos jovens na briga política atual como sinal de despolitização. O fato é que as bandeiras, os temas, os líderes em conflitos – sobretudo estes – não foram ainda capazes de atrair os jovens para o campo em que se dá o conflito. Mas isso não significa que estejam indiferentes. São uma das principais vítimas da crise: a taxa de desemprego entre os jovens, por exemplo, é o dobro da média nacional.
As Jornadas de 2013 tiveram como estopim a luta contra o aumento de passagens na cidade de São Paulo. Quando começaram, parecia apenas mais uma reivindicação restrita a uma cidade. Mas logo espalharam-se para todo o país e trouxeram dezenas de reivindicações para as ruas.
As ocupações que hoje acontecem em escolas e prédios de São Paulo, Rio e Ceará têm reivindicações específicas para a melhoria dos educandários. No caso da Assembleia Legislativa paulista, pediam instalação de uma CPI para investigar suposto desvio de verbas na compra de merenda escolar. O movimento tem entidades dos secundaristas em sua organização, mas a participação que vem obtendo supera o alcance de mobilização dessas entidades. Talvez seja um fenômeno passageiro. Mas convém ficar atento à movimentação dos jovens. Eles não estão satisfeitos. Não têm razão para estar.