13.05

Governo Temer deixou mulheres de fora do ministério, optando por remar contra tendência mundial.

Luce Pereira (texto)
Samuca (arte)

É com o passar do tempo que os brasileiros vão perceber a diferença entre as filosofias de governo de Dilma Rousseff e Michel Temer, mas ao menos uma já salta aos olhos e é resumida pela palavra diversidade. De boca em boca na era petista, até ontem ela parecia condenada ao vazio criado pela enorme distância que separa a (ainda) presidente do seu substituto interino. As redes sociais reagiram antes mesmo de a posse, ontem, lembrar o filme MIB – Homens de preto (naturalmente, sem os óculos escuros), quando, pela manhã, eram inúmeras as presenças femininas na saída da chefe de Estado do Palácio do Planalto. Nenhuma mulher escalada entre os 23 ministros, algo que não se via desde o governo Geisel, mexeu com os brios femininos, sobretudo por representar retrocesso sem tamanho. Afinal, desde a primeira hora, os petistas haviam decidido transformar numa das marcas de governo a participação delas em cargos importantes, tendência, aliás, que só se robustece nos países desenvolvidos.
Ignorar solenemente a contribuição que poderiam dar pareceu sinal inequívoco de conservadorismo, termo do qual andamos fugindo a passos largos, nas últimas duas décadas. Estranhamente, foi o próprio Temer a criar, quando secretário de Segurança Pública de São Paulo, no governo Franco Montoro, a primeira Delegacia da Mulher, que vai completar 31 anos. A propósito, a ênfase dada no discurso de posse às políticas para a área de direitos humanos – que, em tese, se dedica a fortalecer minorias – foi nenhuma, outro grande sinal de que o segmento viverá dias de apatia e palidez. Do mesmo jeito, nenhum negro recebeu convite para integrar a equipe, o que, também, repercutiu mal entre os que ressaltam a importância antes dada às questões de gênero e de raça.
É a economia o grande foco, mas cheira a suicídio político desviar o olhar de questões vistas como parte da atenção que qualquer governo precisa dispensar a segmentos transformados em alvos de preconceito e discriminação. A ala mais progressista da Igreja, por exemplo, defende políticas que abram espaço para o respeito ao próximo e à igualdade de direitos, e a ausência ou indiferença a elas deve passar a ser sistematicamente cobrada. No mínimo, se não existir avanço em relação a espaços e direitos conquistados, a expectativa é de que haja preservação. Não há nada que diga que prioridade à política econômica deva implicar em pouco caso com a área social.
O tom conservador do governo é indisfarçável, mas pode não continuar o mesmo a depender de como se comporte na relação com os movimentos sociais. E a eles não se pode ficar indiferente nem fazer de conta que não vão brigar para garantir conquistas. Diante de qualquer cenário, até de mudanças na equipe ministerial – naturais em qualquer governo – há a possibilidade de que a ausência de mulheres e negros entre os colaboradores mais próximos seja revista. Afinal, se o Brasil é fruto da diversidade, como seguir sendo representado por amostra tão homogênea dele?
Também é pouco provável que, sob estímulo da oposição, mulheres, negros e outros representantes das chamadas minorias não se mobilizem para pressionar por mais espaço, senão dentro do governo, em situações que levem a uma maior visibilidade. Foram estimulados a esta busca durante longo tempo e não devem conviver pacientemente com tentativas de retrocesso. Por enquanto, não é razoável arriscar qualquer prognóstico sobre o que será o Brasil nos próximos meses, mas trata-se de bom senso admitir a existência de obstáculos muito grandes no caminho. Só não se pode esquecer que desafios se vencem apenas quando o governo não perde o social de vista.