Por 40 anos, viveu como Josefina Maria. Por causa de uma hemiplegia (paralisia total ou parcial de um dos lados do corpo), teve que buscar internação na Santa Casa de Misericórdia do Recife. Saiu de lá, a contragosto, como José Maria. No dia 8 de março de 1933, o Diario de Pernambuco registrava um caso raro de intersexualidade onde o paciente se tornava uma curiosidade mórbida.

Devido à atrofia dos seus órgãos genitais e pela hipospadia (abertura congênita e anormal da uretra na face inferior do pênis ou no escroto), somente no hospital é que se descobriu que Josefina Maria era um homem. A paciente então foi transferida para a ala masculina. Mesmo implorando para o médico Rômulo Cavalcanti que gostaria de continuar a ser tratada como mulher, teria que se adaptar à nova realidade.

A reportagem até elogia “a paciência beneditina” do médico. “A infeliz criatura a princípio não quis compreender semelhante transformação e apelou para os sentimentos do clínico no sentido de fazê-la voltar à enfermaria do seu anterior sexo”.

Josefina/José Maria não era o único caso de intersexualidade tratado há 83 anos no Recife. A Santa Casa de Misericórdia também abrigava um jovem de 18 anos, filho de pais russos, com ginecomastia tardia, o que o obrigava a usar sutiã de grandes dimensões.