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Jones Oliveira é da Epitrack, uma startup que desenvolve plataformas online para detecção de doenças.

Marcionila Teixeira (texto)
Brenda Alcântara (foto)

Há quinze anos, Jones Oliveira de Albuquerque, 46, não assiste televisão. Nesse período, plantou 18.317 mil mudas de floresta nativa em um sítio no Cabo de Santo Agostinho. Também começou a praticar triathlon e criou um curso inédito de epidemiologia computacional na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Jones não cansa de desafiar a si próprio. Desde criança, diz almejar ser o primeiro em tudo o que faz. Agora, participa, junto com dois sócios, de uma competição internacional cujo prêmio vale US$ 1 milhão. Trata-se da única iniciativa brasileira finalista.
Além de professor da UFRPE, Jones é diretor de conhecimento da startup Epitrack, localizada no Pina, na Zona Sul do Recife. Lá ele é uma espécie de estimulador de ideias, motivador. Assim tem sido desde que a empresa foi criada, em 2014. Hoje a equipe de 14 pessoas está focada em desenvolver plataformas online para detecção digital de doenças. A ideia é coletar junto a usuários dados sobre sintomas e criar mapas interativos que mostram diferentes áreas afetadas pela doença. Assim possibilitam identificar o risco de surtos e epidemias de doenças infecciosas rapidamente para gerenciar a resposta de forma eficaz.
O projeto finalista da Epitrack é desenvolvido em parceria com o Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). No processo, unem a expertise da Epitrack no desenvolvimento de aplicativos na área de saúde, sobretudo na identificação de epidemias de doenças infectocontagiosas, com a capacidade do laboratório de, por meio da análise molecular, identificar as chances de um indivíduo ter, ao longo da vida, câncer de mama, próstata ou colo de útero.
A premiação da The Venture é anual e voltada para jovens empreendedores sociais. O público pode votar na iniciativa pelo site https://www.theventure.com/global/en/finalists/epitrack. Com o financiamento, eles planejam expandir a área de atuação e melhorar o laboratório de pesquisas, com contratações no campo da biologia molecular e engenharia de hardware.
O homem por trás da ideia de “ouro” tem graduação e pós-graduação em computação. É apaixonado pela área e, ao mesmo tempo, inquieto. Por isso, um dia, bem antes da abertura da startup, decidiu participar de uma palestra sobre endemias. Lá ouviu de uma especialista que havia muitos problemas no monitoramento de doenças. Convidado a ir a campo, foi o primeiro da sala a levantar a mão. “Sempre convivi com incrédulos”, lembra. Foi assim que se sentiu naquele dia diante do olhar da palestrante. A partir daí, apresentou um projeto de pesquisa para viabilizar novas formas de avaliação de riscos de endemia. Teve o projeto aprovado. A implantação do curso de epidemiologia computacional na Rural era um dos objetivos a ser alcançado. Aquele seria seu primeiro estalo para raciocinar diante de um mix entre saúde e computação.
Os futuros sócios, Onício Leal e Juliana Perazzo, conheceu enquanto ministrava o curso no mestrado da Rural. Da junção de conhecimentos entre os três, surgiu a Epitrack. “Fui como um catalisador. A ideia não é minha. Eu sozinho não faria. Fui agregando. A ideia existia. Somente foi descoberta”, reconhece.
Para Jones, o professor, a Epitrack vai contra todo o sistema acadêmico tradicional. Trata-se de um escritório moderno montado no Shopping RioMar, repleto de artefatos coloridos e confortáveis, incluindo almofadas divertidas, games e móveis retrô, além, claro, dos computadores e jovens, muitos jovens profissionais. “O sistema acadêmico não se apropriou desse mecanismo de atender à sociedade. A startup é como um laboratório de pesquisa em epidemiologia computacional. Uma das diferenças é que os funcionários jogam e até dormem aqui quando desejam”, diz, em meio a uma entrevista concedida na presença das dezenas de funcionários. “Aqui não tenho nada a esconder”, brinca.
O professor diz enxergar a computação como uma engenharia, como um meio para construir coisas. “Já a ciência nos faz divagar sobre o que é possível”, raciocina. A partir dessa junção, têm surgido as ideias no grupo. E junto com elas, soluções inovadoras.