Em Foco 20.05

Sob acusação de estupro de vulnerável, ex-BBB foi surpreendido onde mora por uma operação do Ministério Público.

Luce Pereira (texto)
Editoria de arte (ilustração)

 

Luce Pereira
lucepereira.pe@dabr.com.br

Definitivamente, a tv aberta brasileira não é o melhor endereço para gente jovem encontrar exemplos nos quais se mire. Ainda mais em se tratando de programas de entretenimento, neste caso, especificamente, aquele que desperta as maiores polêmicas – o Big Brother Brasil, da Rede Globo. O programa consegue elevar a audiência às alturas com participantes sempre dispostos a fazer da casa onde são confinados uma espécie de “terrível” comédia humana, aliás, como convém a qualquer reality show da mesma natureza. Na edição 2016, depois de muito se desentender com a jornalista Ana Paula Renault, 34 anos, – que não ganhou, mas roubou a cena até ser expulsa –, o tatuador Laércio de Moura, 53, se despediu do grupo e, na vida real, passou a morar em domicílio bem menos glamuroso e confortável – o Centro de Custódia de Curitiba, sob acusação de estupro de vulnerável e de induzir menores à ingestão de bebidas alcoólicas.
A história que levou o ex-BBB a ser preso não é nada aconselhável para menores de 18 anos e passou a ser pouco a pouco desvendada quando teve início a participação dele na casa. A polícia começou a receber denúncias sobre a prática dos supostos crimes e passou a investigar, discreta mas sistematicamente, até chegar às vítimas. A delegada do caso confirmou que uma adolescente de 17 anos foi à delegacia e disse ter tido um relacionamento com o tatuador aos 13, por quem, na época, era induzida a ingerir bebida alcoólica.
Terreno propício para gente que faz o tipo “língua solta” ou desbocada, a casa acaba arrancando de muitos brothers declarações que terminam pesando contra eles dentro ou fora do programa. Já acusado por Ana Paula de olhar de forma “estranha” para duas participantes e de dormir de cueca num ambiente onde havia mulheres, Moura acabou despertando suspeitas ao confessar que tinha duas namoradas, uma de 17 e outra de 19 anos. Desta forma, abriu caminho para a polícia levar em conta as denúncias recebidas e colocou uma pulga atrás da orelha do Ministério Público.
Ao sair da casa, o homem de barba longa não apenas deu adeus ao sonho de ganhar R$ 1,5 milhão como passou a ter a vida vasculhada e a receber ataques disparados a partir das redes sociais. Não pelo que fez enquanto confinado, mas pela imprevidência de manter um perfil no qual se mostrava apreciador de comunidades de “supremacia branca”, de armas, e por ter-se revelado, no Facebook, simpatizante de “efebofilia”, nome pelo qual é conhecida a atração por adolescentes. Outras suspeitas ainda estariam na mira da polícia de Curitiba, estado natal de Moura, sempre na linha de sedução de menores e uso de bebida alcoólica como facilitador da conquista do objetivo. Há outros relatos na internet, o que reforçou a decisão do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes de apreender computadores na casa onde o ex-BBB foi detido preventivamente, segunda-feira.
O caso sugere que deveria haver muito mais rigor na escolha dos candidatos a participar da casa, sob risco de, pela peneira, passar pessoas cuja conduta é, no mínimo, passível de investigação pela polícia ou pelo Ministério Público. Neste caso, infratores/criminosos podem até perder o prêmio, mas ganham uma vitrine e tanto para usar com o fim que melhor lhe aprouver. A propósito, uma postagem no perfil do acusado no Twitter fazia a seguinte pergunta: “podemos contar com vocês para uma ´vaquinha` para ajudar o Laerte para ele ser liberto?”, ao que os internautas (pelo jeito, convertidos em ex-fãs) responderam com um rotundo “não”. Cerca de 98% dos quase 80 mil que participaram da enquete repudiaram veementemente o pedido, o que significa o óbvio: mesmo quando parece, a população não está dormindo a sono solto – só tirando um leve cochilo.