Em Foco 21.05

Autores revelam característica comum a pessoas bem-sucedidas: é algo que está ao alcance de todos.

Vandeck Santiago (texto)
Yasuyoshi Chiba/AFP (foto)

Durante 30 anos um cidadão americano obcecado em ficar rico entrevistou 1.200 milionários. Descobriu algo surpreendente em comum entre eles: todos liam muito, alguns eram leitores vorazes. Não sei se pela obsessão ou talvez por ter descoberto o caminho das pedras (ou melhor, do dinheiro), este cidadão acabou também ficando rico. Chama-se Steve Riebold, e é autor do livro How the rich people think (em tradução livre: “Como as pessoas ricas pensam”).
Por curiosidade, fui ver a tradicional lista da Forbes com os 10 homens mais ricos do mundo; a edição mais recente, de 2016. O primeiro lugar é Bill Gates, um leitor voraz. Lê pelo menos 50 livros por ano, o que dá praticamente um por semana. O segundo lugar da lista é o dono da rede de lojas Zara, Amâncio Ortega (Espanha), sobre o qual não há notícias a respeito dos seus hábitos de leitura. Já o terceiro lugar é Warren Buffet (EUA), um investidor que onde põe a mão vira ouro. Uma vez lhe perguntaram qual o segredo do sucesso, e ele respondeu apontando para uma pilha de livros que estava na sua mesa: “Leia 500 páginas como estas por dia”. No começo da carreira ele lia entre 600 e mil páginas por dia, informa o artigo The reading habits of ultra-successful people (“Hábitos de leitura de pessoas ultra bem-sucedidas”, numa tradução livre), publicado no Huffington Post e cuja leitura foi sugerida por Juan Antonio Giner, diretor de uma das mais celebradas consultorias de mídia do mundo, a Innovation International Media Consulting.
Seguindo a lista dos mais ricos: em 4º lugar está o mexicano Carlos Slim; em 5º, Jeff Bezos (fundador da Amazon e hoje dono do Washington Post) e em 6º, Mark Zuckerberg, criador do Facebook. Estes dois últimos são também conhecidos leitores. Zuckerberg estipula metas: em 2015, por exemplo, sua meta foi de ler pelo menos dois livros por semana. O artigo do Huffington Post menciona ainda outros milionários reconhecidamente grandes leitores, mas não temos aqui tanto espaço para listá-los.
Um detalhe interessante é que, segundo o artigo e o livro de Riebold, estas pessoas ditas “bem-sucedidas” não escolhem suas leituras aleatoriamente. Leem principalmente para aprendizado e conhecimento, deixando em segundo plano a leitura de entretenimento. Não gastam tempo com leitura de conteúdo vazio (atividades de celebridades etc.). Leem para aprimorar-se, estar bem informados e buscar inspiração.
Há que se fazer a contextualização de que os casos citados são dos EUA, mas fortuna e sucesso em carreiras profissionais são universais, e suas características podem ser observadas em diversas regiões. Dia desses li extraordinário texto do colega jornalista Deco Bancillon (DF) sobre o assunto. Ele relata uma cena que testemunhou numa recepção superprime de um grande banco. Lá estavam um pai e duas crianças. Estas com farda de uma escola onde estuda a nata da sociedade brasiliense. “O que me chamou a atenção nisso tudo é que, durante todo o tempo que esperam pelo pai, as duas crianças, uma menina e um menino, estão com a cara enfiada em livros”, escreve Bancillon. “Não desses letivos, daqueles que o professor ‘mandou ler o capítulo sete, que vai cair na prova’. Mas livros infantis, sem figuras”.
Houve um momento em que a menina pôs o livro de lado e pegou uma revista Piauí e começou a ler. Narra Bancillon: “Pensei comigo que, na primeira página, ao se deparar com aquele mundo de letras e algumas pouquíssimas ilustrações, ela deixaria a revista de lado. Ledo engano. A menina leu uma matéria inteira da seção ‘Esquina’. Não sei se alguma dessas crianças têm celulares, mas devo imaginar que, se não o têm, não será por falta de dinheiro dos pais. Porém, desde que estou aqui, nenhuma delas nem sequer tocou num celular. Apenas nos livros, e em revistas para ‘adultos’”. A cena inspirou uma recomendação a Bancillon: “Quero deixar aqui um recado para os meus amigos que são papais: é com pessoas como essas crianças que seus filhos concorrerão no mercado de trabalho, daqui a alguns anos. E não se enganem. Além do dinheiro dos papais delas, o que já dará uma boa vantagem na largada, elas estarão muito bem preparadas para o futuro”.
Falei em dinheiro e em sucesso para atrair a atenção de vocês, leitores. Sabemos todos nós que estes não são os únicos ideais dignos de ser perseguidos. Sabemos também que a felicidade pode ser encontrada fora desse círculo de interesse, e que há vários tipos de riqueza, não só a financeira. Mas qualquer que seja a atividade não há dúvida que a leitura é fundamental. Esta é a principal mensagem que pretendo deixar aqui.