14.06

O Brasil não tem terrorismo, mas já tivemos tragédias em boates e ataques em cinema e escola.

Vandeck Santiago (texto)
Iran Military (foto)

Imagine que você está em uma escola, em uma casa de shows, em um bar ou no cinema e de repente alguém começa a atirar indiscriminadamente – o que fazer?
Especialistas internacionais em segurança dizem exatamente quais as medidas a tomar, e vou relatá-las aqui, mas antes deixem-me chamar atenção para o inusitado da pergunta.
Se ela fosse feita há alguns anos, soaria como um despropósito, a menos que você estivesse numa zona de guerra. Mais despropositado ainda seria se algum veículo tradicional da imprensa fizesse matéria indicando exatamente o que você deve fazer numa situação dessas, como uma espécie de “manual de sobrevivência contra atiradores”. Infelizmente, porém, a pergunta tem tudo a ver com os tempos intranquilos que estamos vivendo.
Na cobertura da tragédia de Orlando (EUA), o Washington Post incluiu uma matéria que é emblemática dessa situação. “O que fazer no caso de um atirador abrir fogo no prédio em que você está”, é o título (numa tradução livre). Não se trata de uma iniciativa isolada. Em 19 de novembro do ano passado – logo em seguida aos atentados que mataram 130 pessoas em Paris – a BBC fez matéria praticamente com o mesmo título. E em 18 de dezembro a polícia britânica divulgou um vídeo de quatro minutos com orientações sobre como as pessoas deveriam agir em atentado semelhante. (No que tange a ataques terroristas, a situação no Brasil é diferente do que se vê hoje em grandes cidades da Europa e dos EUA, mas já tivemos tragédias por outros motivos em boates, cinema e escola, recentemente.)
Quem vai a um bar, um cinema, um restaurante, uma boate, dificilmente vai entrar pensando ‘Onde fica a saída de emergência?”. Mas esta é a primeira coisa a fazer, segundo especialistas ouvidos pela BBC – o que é também sintomático da intranquilidade de nossos dias. No ataque à casa de shows Bataclan, em 13 de novembro de 2015, em Paris, um grande grupo conseguiu escapar justamente pela saída de incêndio.
A segunda dica é, caso o atentado (ou incêndio) tenha início, aja rapidamente. Corra. Não espere para ver o que as outras pessoas vão fazer. No vídeo de quatro minutos da polícia britânica, a recomendação é expressa: corra em busca de uma saída, esconda-se (se não der para sair do prédio) e telefone para a polícia. As recomendações divulgadas pela BBC (em dezembro de 2015) e pelo Washington Post (2016) coincidem neste ponto: ao fugir, você pode chamar outras pessoas para seguir com você, mas não deixe que a indecisão delas o retardem. Se não quiserem ir, deixe-as para trás.
Ao correr, é preciso tentar seguir um método: ficar fora da linha de fogo do atirador e buscar uma saída. Aqui, segundo uma das recomendações do guia do Post, colhidas de entrevistas com especialistas no setor, deve-se pensar de forma não convencional: a saída não pode dar-se apenas pelas portas; pode ser que também seja possível por janelas (mas, se for saltar, observe a altura e o que há embaixo – como possíveis peças que possam atenuar o choque da queda).
A hierarquia do guia divulgado pelo Post é a seguinte: primeiro, corra; segundo, se não for possível sair, esconda-se. E ao fazer isso, tome as medidas que forem possíveis: desligar as luzes, colocar o celular no silencioso e telefonar para a polícia dando o máximo de informações possível (sua localização, quantos atiradores etc.); colocar obstáculos para sustentar a porta; e pensar em um plano para escapar.
A terceira e última recomendação é para o caso de você ficar encurralado: lute. Não fique passivo. Se tiver com mais pessoas, trace um plano: fiquem atrás da porta para agarrar o atirador assim que ele entrar. Um tenta segurar a arma dele, apontando-a para baixo; outro segura as pernas; outro a cintura, e tentam derrubá-lo e imobilizá-lo. Se tiver tido tempo antes, procure um objeto contundente com o qual possa golpeá-lo. Se golpear, faça-o sem dó: para apenas quando ele estiver fora de combate.
O que estes guias e as matérias dos jornais (como esta aqui) retratam é um dos tristes sinais de nosso tempo: antes de sair para uma festa, não basta escolher a roupa; é prudente também estar a par de dicas de segurança para o caso de ocorrer um atentado…