foc2106ok

Em virtude da crise política, número de candidatos “novatos” deve ser maior do que na disputa de 2012

Vandeck Santiago (texto)
Ricardo Fernandes/DP (foto)

Com quantos votos se faz um vereador no Recife? Segundo estimativa do economista Maurício Costa Romão, especialista no tema, o quociente eleitoral da capital pernambucana para as eleições de 2016 ficará em torno de 21 mil votos. O quociente é uma espécie de teto mínimo que os partidos ou coligações precisam atingir para conquistar vagas; seu cálculo consiste na divisão do total de votos válidos pelo número de cadeiras disponíveis no Legislativo (39, no caso da Câmara do Recife). Às vezes há candidatos que obtêm grandes votações, mas não são eleitos, porque o seu partido não conseguiu o quociente. Em 2012, por exemplo, Edilson Silva (PSol) foi o terceiro mais votado no Recife (teve mais de 13 mil votos), porém não se elegeu, uma vez sua coligação (PSol/PCB) não atingiu o quociente, que foi de 22.531 votos.

Este é um ponto da disputa que se avizinha. Outro é que, embora os partidos ainda não tenham oficializado suas listas de candidatos, a impressão que se tem é que este ano um recorde de “novatos” em relação às últimas eleições. A impressão deriva da movimentação atual de pré-candidatos, em diferentes áreas e representando diversos interesses. A crise política vivida pelo país nos últimos 18 meses, que culminou no afastamento (por enquanto temporário) da presidente Dilma Rousseff, tornou-se um atrativo poderoso de estímulo de candidaturas.

Além disso, teremos uma disputa sem nenhum grande cacique (o último foi Eduardo Campos, falecido em 2014) e com alterações profundas no prazo e nos apoios financeiros. Será uma campanha curta, de apenas 45 dias (antes era de 90 dias), e economicamente enxuta – estão proibidas as doações de empresas; os candidatos terão de contar com recursos próprios, doações de pessoas físicas e recursos do fundo partidário. Estão proibidas práticas comuns nos pleitos anteriores, como os cavaletes. Claro, sempre é possível que haja financiamentos ilegais, mas em tempos de Operação Lava-Jato é uma temeridade que talvez ninguém queira aceitar.

Ou seja: teremos uma eleição inédita na forma e na mobilização. Isso favorece ou prejudica a renovação da Câmara, que em 2012 chegou a 36%? A campanha mais curta é prejudicial para os “novatos”, que terão menos tempo para se apresentar e tornar-se conhecidos pelo eleitor. Mas o fechamento de torneiras do financiamento privado favorece o nivelamento da disputa. E beneficia aqueles que são apoiados por sindicatos, grupos religiosos, entidades, associações, movimentos. Beneficiados também serão os que carregam um sobrenome de político famoso – isso sempre foi uma vantagem, mas nas condições atuais parece ser mais ainda.

É inevitável também que os discursos adotados reflitam o grande embate que se trava a nível nacional, entre defensores e opositores do impeachment e entre partidários e opositores dos governos petistas. Até o ano passado, era plausível esperar que o tema “corrupção” dividisse espaço em condições de igualdade com outros típicos de disputas locais (saúde, segurança, desemprego). Mas com as últimas revelações das delações na Lava-Jato, que ampliam as denúncias de corrupção para figuras graúdas de todos os grandes partidos, talvez o tema não mereça tanta ênfase de todos…

Resta ver também se, motivada pelo que está acontecendo no país, os eleitores darão mais atenção à eleição proporcional, que costuma ser posta em segundo plano diante da polarização que sempre ocorre na disputa majoritária. Quando isso acontece, o índice de renovação da Casa costuma ser alto – não necessariamente porque os seus ocupantes sejam “ruins”, mas porque o desejo de “mudar o que aí está” sobrepõe-se à vontade de deixar tudo como está.
São eleições diferentes, mas a disputa para vereador em outubro próximo tende a ser uma espécie de prévia do pleito para deputado que acontecerá em 2018. Convém prestar atenção no sentimento que o eleitor manifestará em seu voto.